sábado, 12 de novembro de 2011

CRÍTICA À EXPOSIÇÃO "CONEXÕES POÉTICAS"




CRÍTICA À EXPOSIÇAO “CONEXÕES POÉTICAS”
Charles Odevan Xavier

Este ensaio é uma resenha crítica da Exposição “Conexões Poéticas” em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste, no mês de Novembro de 2011.

A Exposição “Conexões Poéticas” é uma iniciativa do Instituto de Cultura e Arte da UFC.E surgiu durante o seu programa de residência artística. O projeto já esta na sua segunda edição, promove encontros entre artistas convidados e jovens artistas residentes através de workshops, criando um espaço de troca, no qual os trabalhos podem ser pensados de forma processual e colaborativa.

Para escrevermos este ensaio lemos a seguinte bibliografia:


ARCHER, Michael. Arte contemporânea – 2ª edição – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2005.
FRANCASTEL, Pierre. A Realidade Figurativa – 2ª edição – São Paulo: Perspectiva, 1993.
GOMBRICH, Ernst Hans Josef. A História da Arte – 16ª edição – Rio de Janeiro: LTC, 2000
GULLAR, Ferreira. Etapas da Arte Contemporânea – Rio de Janeiro: Revan, 1998.

E neste ensaio iremos tecer comentários sobre as obras “Força Humana” de Leonardo Mouramateus; “Progressão Geométrica” de Tobias Gaede, “Relicário” Lara Vasconcelos e Luciana Vieira e “Primavera” Natália Alves.

FORÇA HUMANA DE LEONARDO MOURAMATEUS

Na obra “Força Humana” o espectador entra numa sala escura, senta-se num sofá (caso queira) o que sugere que a video-arte que iremos ver é longa – ou chata, no caso de espectadores que vi entrando e saindo dentro de poucos segundos.

O que acontece em “Força Humana” de Leonardo Mouramateus? Uma video-arte dividida ao meio em dois planos que se sucedem no tempo revelam tomadas e enquadramentos de um galpão industrial onde operários metalúrgicos manipulam maquinas e soldas quentes. Bem. Basicamente é isso o que acontece na video-arte.

Só que os enquadramentos e angulações capturadas por uma filmadora de vídeo são belos, produzindo assimetrias ou simetrias gráficas no telhado do galpão em contraposição com a dureza amarela dos guindastes que aparecem ou dos tratores.

Os operários filmados não são atores pagos, são reais, o que provoca uma situação de cinema verdade na película filmada.

Pergunta-se: Para que filmar operários e peões consertando máquinas ou operando soldas? Talvez a intenção de Leonardo Mouramateus tenha sido celebrar o homem comum, o homem sem aparente importância e glamour, o peão de fábrica. Tal iniciativa começou a ocorrer só na arte modernista a partir do Impressionismo. E a arte contemporânea - ou pós-moderna como querem alguns críticos – é notória em cantar o banal, o comum, o cotidiano, o sem glamour.

Merece ser vista até o fim.

PROGRESSAO GEOMETRICA DE TOBIAS GAEDE

A obra “Progressão Geométrica” de Tobias Gaede éuma vídeo-instalação em que se questiona a questão do tempo. Num lado vemos um monitor de vídeo exibir clipparts com a agenda diária do artista totalmente cronometrada. Em cima de um pedestal vemos um livro vermelho em espanhol de Gaston Bachelard “Intuicion del instante”. Na parede da frente vemos duas projeções em Data-show do artista lendo o livro de Gaston Bachelard. Só que por alguma razão ( talvez o excesso de luz da sala) a projeção tenha cores esmaecidas e esfumaçadas, talvez questionando a efemeridade do tempo.

Na outra parede vemos uma xerox da agenda cronometrada que aparece no clippart do monitor de vídeo.

Em “Progressão Geométrica” Tobias Gaede quer questionar a temporalidade no cotidiano pós-moderno. Ate que ponto somos criadores de tempo ou reféns do tempo? Parece ser a pergunta de Gaede.

RELICÀRIO DE LARA VASCONCELOS E LUCIANA VIEIRA

Na obra “Relicário” de Lara Vasconcelos e Luciana Vieira vemos uma estrutura de madeira branca no centro de uma sala. Em cima dela há um desses álbuns de foto vermelho. E na estrutura de madeira há um fone de ouvido, que convida o espectador a “ouvir” a obra. Criando uma situação de estranhamento inicial, posto que iremos ouvir e não há nada aparentemente para ver.

Eu tive a intuição de abrir o álbum de fotos, mas outros espectadores talvez pudessem ficar intimidados já que se sabe que em museu não se pode tocar as obras.

O que vemos no álbum, quando aberto, foi uma sucessão de fotos de família, mostrando o cotidiano .As fotos amarelecidas pelo tempo estavam circundadas de pequenos poemas feitos de hidrocor vermelha sobre transparências que cobriam as paginas do álbum.

E ao ouvir o que tinha no fone de ouvido, sempre a intrigante frase se repetindo: “Num filme antigo de meu pai, aparece uma mulher, que podia ser minha mãe, mas não era”.

Vamos ouvindo e a sucessão de fotos e poemas do álbum cria uma pequena confusão cognitiva no espectador, como se produzisse dois percursos narrativos diferentes.

Há beleza nessa obra e ao final da consulta ao álbum de fotos, uma surpresa: na última página vemos um monitor de vídeo dentro da estrutura de madeira que exibe um pequeno filme super 8, onde ocorre uma seqüência rápida e fugaz do que se diz no fone de ouvido.

As artistas podem estar questionando a noção de memória e de como ela pode nos trair. E tal como um baú de recordações, o álbum de fotografias pode ser um relicário de relíquias simbólicas.

PRIMAVERA DE NATALIA ALVES


Na obra “Primavera” de Natália Alves vemos numa sala iluminada e cheia de ruídos, quatros vestidos desses que senhoras idosas vestem em casa pendurados no teto.

Quando o espectador se aproxima dos vestidos pode escutar saindo do “tórax” dos vestidos vozes de senhoras idosas dando depoimentos sobre suas vidas.

Eu gostei da obra e do lugar que a artista resolveu colocar as caixas de som, por que quem estuda medicina indiana sabe que no tórax há o chacra cardíaco das emoções sublimes.

DOIS ARTISTAS QUE FICARAM DE FORA DO MEU COMENTARIO

Poderia falar de dois artistas que ficaram de fora do meu comentário e que estão na exposição. Marina Mapurunga colocou numa sala um teclado onde aparentemente o espectador pode interagir, mas no dia em que fui à exposição o teclado estava com problemas técnicos, então não pude fruir de meu talento como pianista amador.

E na obra de Tiago Fontoura, dois monitores de vídeo exibem, num plano americano, dois bailarinos fazendo gestualidades. Foi a obra mais hermética para mim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Exposição “Conexões Poéticas” vemos que os artistas envolvidos estão refletindo de uma maneira ou outra sobre a questão do tempo na sociedade contemporânea. Em que medida as tecnologias permite mais tempo, mais ócio ou mais trabalho e tortura.

Pesquisador.