domingo, 26 de agosto de 2012

PSICANÁLISE DA FEIJOADA - charles odevan xavier - 4shared.com - online file sharing and storage - download - Charles Odevan Xavier

PSICANÁLISE DA FEIJOADA - charles odevan xavier - 4shared.com - online file sharing and storage - download - Charles Odevan Xavier

Leitoras e Leitores do BLOG ESCRITAS este é o meu e-book de ensaios anticapitalistas sobre afro-religiosidade, literatura e cultura. Chama-se Psicanálise da Feijoada.

Boa leitura!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

ESQUEMA DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE REALIZADA NO SESC-CE

ESQUEMA DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE Conferencista: Prof. Charles Odevan Xavier Evento: CAFÉ E FILOSOFIA DO SESC-CE EM FORTALEZA QUINTA-FEIRA DIA 9 DE AGOSTO DE 2012 CARACTERÍSTICAS DA PRÉ-MODERNIDADE • Modo de produção artesanal • Vida e moradia em feudos agrários • Trabalho em guildas • Teocentrismo – Deus como sistema de explicação da realidade • Hegemonia da Igreja Católica • Sociedade agrária e pastoril • Sacralização da physis, o mundo natural • Teocracia • Vida Regida pela Providência CARACTERÍSTICAS DA MODERNIDADE • Modo de produção industrial • Vida em aglomerados urbanos • Êxodo rural • Surgimento dos Estados Nações • Trabalho em fábricas • Moradias em subúrbios • Constituição de duas classes antagônicas: proletariado urbano e burguesia industrial • Antropocentrismo – O homem no centro das coisas • Paradigma Cartesiano-newtoniano • Secularismo – Perda de autoridade da(s) Igreja(s) • Sociedade Industrial • Fordismo • Pleno emprego • Desencantamento do mundo • Dessacralização da physis; o mundo natural se torna uma mercadoria • Laicização do Estado e do Direito CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODERNIDADE – Período também nomeado de modernidade tardia (Habermas), hipermodernidade (Lipovetsky), capitalismo tardio (Jameson). • Modo de produção pós-industrial (?) • Vida em grandes centros-megalópolis • Êxodo urbano • Trabalho no setor de serviços – por exemplo: call center, telemarketing; em casa ou até no cyberespaço. • Paradigma holístico • Sociedade da informação, do conhecimento. • Capitalismo transnacional • Toyotismo/Reengenharia/Qualidade Total • Constituição do novo proletariado: subcontratado, precarizado ou subempregado - o que Karl Marx chamou de lumpenproletariado. • Surgimento de novos atores sociais (movimento negro, gay, imigração, ecológico, entre outros) • Surgimento de novos religares: neo-pentecostalismo, espiritualidade new age. • Ressacralização da physis (?) • Reencantamento do mundo (?) 1. Conceito de Sagrado "A Religião existe para que o mundo tenha sentido" Rubem Alves "A Religião é um sistema de sentido" Luiz Felipe Pondé "(...)para o Homo religiosus o Mundo não é mudo nem opaco, não é uma coisa inerte, sem objetivo e sem significado; o Cosmos vive e fala." Mircea Eliade O sagrado se relaciona com a santidade. Santidade é, em geral, o estado de ser santo (percebido pelos religiosos como os indivíduos associados com o divino) ou sagrados (considerados dignos de respeito e devoção espiritual, ou que inspiram temor ou reverência entre os crentes em um determinado conjunto de ideias espirituais) . Em outros contextos, os objetos são muitas vezes considerados santos 'ou' sagrados, se utilizado para fins espirituais, como o culto dos deuses ou serviço. Estes termos também podem ser usados em um contexto não-espiritual ou semi-espiritual ( "sagradas verdades", em uma constituição). Muitas vezes, é atribuída a pessoas ( "um homem santo" de profissão religiosa, "santo profeta", que é venerada por seus seguidores), objetos ( "sagrado artefato" que alguém adorava), tempos ( "dias santos" da introspecção espiritual, tais como durante os feriados relgiosos), ou lugares ( "solo sagrado", "lugar sagrado"). 2. Etimologia A palavra "sagrado" provém do latim sacrum, que se referia aos deuses ou a alguma coisa em seu poder. Como também vem do termos latino'sanctus', separado. Em hebraico há o termo equivalente 'kadosh', separado. Aquilo que se difere do ordinário, do comum, do mundano, do profano (Luis Felipe Pondé). Foi geralmente concebido especialmente, como referindo-se à área em torno de um templo. Já o termo santo vem de sanctus, significando "que tem caráter sagrado, augusto, venerando, inviolável, respeitável, purificador".

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O PLEITO MUNICIPAL DE 2012: A DIREITA UNIDA E A ESQUERDA BURGUESA DIVIDIDA

O PLEITO MUNICIPAL DE 2012: A DIREITA UNIDA E A ESQUERDA BURGUESA DIVIDIDA Autor: Charles Odevan Xavier “Assim, o PT substitui no seu discurso e na sua prática política a contradição entre “burguesia e proletariado” pela oposição “Sociedade Civil X Esta-do ou Governo”. Na idéia de sociedade civil, estava implícita a aliança com a burguesia e legitimação dos seus interesses como interesses “universais” da “sociedade civil”. Ao mesmo tempo, o PT produziu um diagnóstico em que o problema central da sociedade brasileira estaria na “estagnação econômica” (ou ausência de crescimento). A idéia de um “pacto” reunindo trabalhadores e empresários (“a sociedade civil”) é exatamente o produto dessa base teórica “democrático-burguesa”. O PC do B também indica desde meados dos anos 1990, a existência de uma crise do capitalismo mundial e que o Brasil se encontrava também em uma “crise econômica”, caracterizada pela estagnação. A teoria e o programa do partido indicam a necessidade de desenvolver o “capitalismo nacional” como pré-condição da transição do capitalismo ao socialismo, e para isso seriam necessárias medidas de incentivo ao capital privado nacional e internacional. Ao mesmo tempo, os comunistas indicam que a contradição principal da sociedade brasileira seria “nação X imperialismo”, e entre “forças progressistas” e “conservadores” da sociedade, representante dos interesses da nação e progresso e os contrários a ela. Por isso, uma ampla frente reunindo trabalhadores e burguesia nacional seria necessária, para realizar o desenvolvimento capitalista nacional.” Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 - UNIPA Este texto tem os defeitos e qualidades de um texto conjuntural e depois da data em que foi redigido (21/08/2012) será um texto envelhecido. Também tem os defeitos de ser uma análise com possíveis falhas – como o fato de não saber o nome dos 10 candidatos e de seus respectivos partidos ao pleito de Fortaleza. Escrevo sobre o impacto, da última pesquisa Data-folha, que coloca o gaúcho Moroni Torgan (DEM) na frente dos demais candidatos na intenção de voto do fortalezense, sendo seguido do cearense Inácio Arruda (PCdoB). Como pode ser interpretada essa sinalização do eleitor fortalezense? Simples. O Eleitor de Fortaleza prefere velhos nomes da política local à arriscar por nomes novos ou mais recentes. Faço essa crônica do momento eleitoral depois de ter assistido um programa na TV local – se não me engano na TV Jangadeiro canal 12 – onde por coincidência, ou não, entrevistaram os dois candidatos que estão na frente das pesquisas. A entrevista foi mediada por uma apresentadora e pela jornalista Adísia Sá. Na primeira parte do programa foi entrevistado o candidato Moroni Torgan. O MORONI TORGAN DE 2012 “Liberalismo. I. UMA DEFINIÇÃO DIFÍCIL. ― A definição de Liberalismo como fenômeno histórico oferece dificuldades específicas, a menos que queiramos cair numa história paralela dos diversos Liberalismos (G. De Ruggiero, M. Cranston) ou descobrir um Liberalismo "ecumênico" (T.P. Neill), que não têm muito a ver com a história. A razão da inexistência de consenso quanto a uma definição comum, quer entre os historiadores quer entre os estudiosos de política, é devida a uma tríplice ordem de motivos. Em primeiro lugar, a história do Liberalismo acha-se intimamente ligada à história da democracia; é, pois, difícil chegar a um consenso acerca do que existe de liberal e do que existe de democrático nas atuais democracias liberais: se fatualmente uma distinção se torna difícil, visto a democracia ter realizado uma transformação mais quantitativa do que qualitativa do Estado liberal, do ponto de vista lógico essa distinção permanece necessária, porque o Liberalismo é justamente o critério que distingue a democracia liberal das democracias não-liberais (plebiscitaria, populista, totalitária). Em segundo lugar, o Liberalismo se manifesta nos diferentes países em tempos históricos bastante diversos, conforme seu grau de desenvolvimento; daí ser difícil individuar, no plano sincrônico, o momento liberal capaz de unificar histórias diferentes. Com efeito, enquanto na Inglaterra se manifesta abertamente com a Revolução Gloriosa de 1688-1689, na maior parte dos países da Europa continental é um fenômeno do século XIX, tanto que podemos identificar a revolução russa de 1905 como a última revolução liberal. Em terceiro lugar, nem é possível falar numa "história-difusão" do Liberalismo, embora o modelo da evolução política inglesa tenha exercido uma influência determinante, superior à exercida pelas Constituições francesas da época revolucionária. Isto porque, conforme os diferentes países, que tinham diversas tradições culturais e diversas estruturas de poder, o Liberalismo defrontou-se com problemas políticos específicos, cuja solução determinou sua fisionomia e definiu seus conteúdos, que muitas vezes são apenas uma variável secundária com relação à essência do Liberalismo. Acrescente-se uma certa indefinição quanto aos referenciais históricos do termo Liberalismo: tal termo pode, conforme o caso, indicar um partido ou um movimento político, uma ideologia política ou uma metapolítica (ou uma ética), uma estrutura institucional específica ou a reflexão política por ela estimulada para promover uma ordem política melhor, justamente a ordem liberal. Num primeiro momento, é possível oferecer unicamente uma definição bastante genérica: o Liberalismo é um fenômeno histórico que se manifesta na Idade Moderna e que tem seu baricentro na Europa (ou na área atlântica), embora tenha exercido notável influência nos países que sentiram mais fortemente esta hegemonia cultural (Austrália, América Latina e, em parte, a Índia e o Japão). Com efeito, na era da descolonização, o Liberalismo é a menos exportada ou exportável entre as ideologias nascidas na Europa, como a democracia, o nacionalismo, o socialismo, o catolicismo social, que tiveram um enorme sucesso nos países do Terceiro Mundo. É a única, entre as várias ideologias européias, que não consegue realizar seu potencial cosmopolita, que é comum também à democracia e ao socialismo. Nisto, talvez, seja possível encontrar, em sentido negativo, um critério para dar uma definição do Liberalismo. Uma definição mais consistente do Liberalismo precisa ter necessariamente como ponto de partida o exame da melhor literatura existente, com o objetivo de verificar a validade e os limites dos respectivos enfoques. Somente após termos verificado a pouca utilidade dos dois enfoques mais radicais, o do historiador e o do filósofo, cujas definições abrangem respectivamente pouco demais ou muito demais (§§ II, III), e após termos evidenciado alguns "preconceitos" que encontramos em algumas interpretações históricas de amplo alcance (§§ IV, V), é que procuraremos oferecer uma definição do Liberalismo (§ VI), para ver se o mesmo é uma teoria crítico-empírica atual, ou se já pertence definitivamente ao passado e não é nada mais do que uma "experiência" definitivamente acabada (§ VII).” Dicionário de Política – BOBBIO, Noberto et al. Editora UNB Seria leviano da minha parte dizer que peguei a entrevista com o gaúcho Moroni Torgan do começo, na verdade quando abri a televisão o programa já estava na metade pelo que entendi. Mas Moroni Torgan é um velho conhecido da política local. E seu partido (DEM) diz muito de suas intenções, só o eleitor comum é que talvez não saiba a diferença entre o paradigma liberal do DEM e o paradigma estalinista social neo-liberal de seu opositor nas pesquisas e no programa da TV Jangadeiro. Trazido à cena política cearense pelo, não menos liberal, empresário Tasso Jeressaite...Moroni Torgan foi secretário de segurança e diz ter combatido os traficantes e os pistoleiros locais. Ter “moralizado” nas palavras dele. E qual a diferença desse Moroni Torgan de 2012 para o dos outros pleitos municipais (esse é o quarto pleito que ele concorre). Nos pleitos anteriores Moroni Torgan fetichizava muito mais a questão da segurança pública, agora ele inclue novos termos ao seu discurso. Assisti trechos de um outro debate em que ele dizia estar preocupado com mobilidade urbana mas não criticou a indústria automobilística que entope as ruas de Fortaleza de carros gerando ilhas de calor, poluição e engarrafamentos. E não poderia, seu paradigma liberal burguês capitalista não daria para tanto. Na entrevista da TV JANGADEIRO diz não haver médicos nem remédios nos postos de saúde de Fortaleza. Mas a pergunta é: Na atual fase do capitalismo transnacional o estado burguês está interessado em ser um estado social ou um estado policial a criminalizar os movimentos sociais? Sendo assim, Dr. Moroni, o Estado não tem preocupação em se o povão não tem médicos ou remédios em seus sucateados postos de saúde, mas que tenha excelentes rádio patrulhas com GPS do Ronda do Quarteirão, do Cotam, do GATE e da Tropa de choque para policiar o povo que queira, por exemplo, saquear um supermercado ou um Ceasa cheio de comida. É para isso que o Estado serve, Dr. Moroni, para espancar os pobres e proteger os ricos. Só para isso. Ou seja, nós pobres pagamos impostos e taxas para sermos espancados. Eis a função do Estado democrático de Direito Burguês. Dessa vez Moroni Torgan evita fazer comentários ou insinuações homofóbicas – mudança que já notávamos no pleito de 2008 – talvez pelo fato de que o candidato da esquerda burguesa do PT Elmano seja heterossexual e casado. Ou seja, para não mexer com um vespeiro e perder possíveis votos de gays aburguesados da Aldeota, que gostam de xerifes que promotem mais cacetetes para "vagabundos, pobres e pretos". O Moroni Torgan até contempla termos como direitos humanos, garantindo que o seu governo não será o do paradigma da tolerância zero, que, segundo ele, discorda. Ou seja, é um Moroni Torgan mais “humanizado” que aparece. Mais “ pai dos pobres” que “xerife”. Os meus temores é caso ganhe - e há uma grande probabilidade disso ocorrer - é que quando o Estado resolve distribuir migalhas com editais de cultura em políticas públicas compensatórias no caso de uma Secultfor...Moroni Torgan resolva extinguir a SECULTFOR, já que em sua fala pouco ou nada aparece os CUCAS de Fortaleza. E resolva desviar recursos para sua prometida Guarda Municipal Comunitária. Ou seja, Moroni Torgan representará talvez um retrocesso em se tratando do já minguado orçamento para cultura A ESQUERA BURGUESA DIVIDIDA .”O desenvolvimento dependente brasileiro encontrou seus limites na crise mundial do capitalismo dos anos 1980. Essa crise do capital alongou-se por toda a década de 1990, em que o país apresentou baixas taxas de crescimento econômico global. Mas se anos 1980 o capitalismo vivia uma crise, o movimento sindical e popular (ao contrário do que se deu nos paises do centro no mesmo período) conheceu um grande ascenso. Esse movimento declinaria nos anos 1990, por conta de fatores objetivos e subjetivos, de maneira que o atual contexto (período 2000-2007) pode ser caracterizado como de crise dos movimentos sindical-popular reformismo no Brasil. O marco fundamental da crise do sindicalismo no Brasil é a degeneração burocrática do Bloco reformista dirigido pelo CUT, consolidada pela vitória do PT nas eleições presidenciais de 2002 e 2006. Ao mesmo tempo, é um período em que o capitalismo se desenvolve sob forma de uma ofensiva neoliberal, aprofundando a crise do sindicalismo e se servindo dela. A principal característica dessa crise, é que nela, as organizações partidárias e sindicais da classe trabalhadora não somente estão atreladas ao Bloco no Poder e ao Estado Burguês, mas servem como principais instrumentos para realizar a transição para o “capitalismo ultra-monopolista”, Esse é o papel histórico do PT/CUT e Governo Lula. A crise do movimento sindical-popular no Brasil pode ser imputada ao processo de reestruturação produtiva combinando com o desenvolvimento particular do reformismo brasileiro (“trabalhismo petista”, “comunismo” do PCdoB). É na analise desses dois processos que devemos buscar as causas da crise e a formas de sua superação.” Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 - UNIPA “Apesar da ofensiva burguesa durante a década de 1990 se intensificar, a transição ao capitalismo ultramonopolitsta toyotista e neoliberal, ainda não está completa. A nova Divisão Internacional do Trabalho, que prioriza os investimentos e alocação de capital na Ásia, exige que a burguesia nacional e associada amplie a taxa de exploração da força de trabalho para aumentar a competitividade da economia brasileira. Para isso é necessário a implementação das “reformas neoliberais”, como complemento ao processo de reestruturação produtiva que está em curso. É nesse contexto que se insere a “Era PT” (2002-2010) no exercício do poder executivo brasileiro, tendo com papel histórico completar a transição do nacional-desenvolvimentismo para o neoliberalismo econômico. A adesão do Bloco Trabalhista-Comunista (PT/PCdoB/CUT) ao neoli-beralismo é um elemento chave do processo histórico do desenvolvimento dependente brasileiro. Essa adesão está relacionada a fatores econômicos, especialmente a dinâmica da economia capitalista, e subjetivos, o modelo de sindicalismo e teoria política que fundamenta a estratégia política do Bloco Reformista.” Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 – UNIPA “Os aspectos políticos e ideológicos que denunciavam o oportunismo do bloco PT/PCdoB/CUT já se manifestavam no final da década de 1980 e se aprofundaram nos anos 1990. Na “década perdida” os reformistas aceitaram a proposta de “redemocratização” dos militares. O Bloco não apontou para o questionamento da estrutura do sindicalismo de Estado (mantida na “abertura”) e aderiram a “democracia-burguesa”, negando o protagonismo da classe trabalhadora na luta política (tal qual exposta nas Resoluções do II CONCUT de 1986). A aceitação da estrutura sindical e da democracia burguesa deixa explicito o caráter colaboracionista do bloco PT/PCdoB/CUT (que naquele momento se diferenciavam por questões táticas, mas se aproximaram progressivamente), ao mesmo tempo em que mostra o papel histórico dos reformistas no final dos anos 1980: eles asseguraram uma “transição pacífica” do regime militar para a 'democracia burguesa' “ Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 – UNIPA “Acerca do período 2003-2010, podemos dizer que: 1º) o Brasil vive a fase final de uma transição de modelo de desenvolvimento dependente que começou com a mudança do regime político (da ditadura para a democracia entre 1985-1989) e que agora assume a feição de transição do intervencionismo para o neoliberalismo econômico (transição de um capitalismo monopolista de Estado ou fordismo periférico para o ultra-monopolismo ou para um toyotismo sistêmico); 2º) o papel histórico do PT/PCdoB/CUT está sendo o de garantir a transição de forma pacífica e tranqüila (através do controle e contenção do movimento sindical-popular e lutas de classe), colaborando com o capital nacional e estrangeiro na promoção das reformas neoliberais e medidas de reestruturação produtiva. Esse papel foi possibilitado tanto pela orientação política e convergência do PT com a burguesia “nacional, quanto pelas condições econômicas da semi-periferia, que possibilitou a segmentação do proletariado e a formação de uma ampla “aristocracia proletária”, que se prestou exatamente a ser um agente de colaboração da própria burguesia. Foi a via reformista, a política de alianças com a burguesia nacional e o abandono do principio da luta de classes que levou a degeneração do PT e da CUT. “ Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 – UNIPA “Na crise do sindicalismo brasileiro, foi desencadeado a partir de 2003 um processo de relocalização de organizações partidárias e sindicais. O PSTU (antiga cisão do PT) e o PSOL (formado a partir da cisão dos parlamentares em 2003) se colocaram como “alternativas” para o movimento sindical-popular, de dentro de um campo reformista. Esse novo campo reformista pode ser diferenciado num primeiro momento num oportunismo de direita do “PSOL”, que se dilui progressivamente numa fraseologia dispersa e pouca prática de luta, e o oportunismo de esquerda do PSTU, que deu passos importantes e concretos no sentido de romper de fato com o governismo, especialmente a convocação para a criação da CONLUTAS (Coordenação Nacional das Lutas). Ao dar início a uma alternativa de massas para a ruptura com o governismo, baseada na ação direta popular e proletária, o PSTU cumpriria um importante papel: o de iniciar a criação de novas organizações de luta do proletariado. A formação da CONLUTAS expressou a oposição governismo X anti-governismo, que é também a expressão da contradição resistência proletária X ofensiva do capital ultra-monopolista e neoliberal. A luta contra o Governo Lula tem um conteúdo histórico fundamental, pos expressa a oposição entre os interesses econômicos da burguesia, materializados nas reformas do governo Lula/PT/PCdoB, e os interesses da classe trabalhadora. As reformas neoliberais em curso constituem assim, nesta conjuntura, uma contradição estratégica entre a burguesia e o proletariado brasileiro, bem como as medidas mais localizadas de reestruturação produtiva. O setor majoritário do PSOL, num primeiro momento, não aceitava a ruptura com a CUT e mesmo o Governo Lula, e convocou a construção de “outras alternativas” (Assembléia Nacional Popular de Esquerda, “Intersindical”) que pretendiam recusar o processo de ruptura com a CUT. Era a lógica de disputar a “CUT” e disputar o “Governo Lula”. Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 – UNIPA “Entretanto, como já havíamos indicado em outras analises, o oportunismo de esquerda do PSTU não tardou em guinar à direita. O marco dessa guinada direitista foi o início do segundo Governo Lula, e já no início de 2007, por ocasião da realização do “Encontro Nacional Contra as Reformas” (São Paulo, 25 de março de 2007), os trotskistas do PSTU promoveram um recuo em relação ao projeto da CONLUTAS ao consolidar a “política de unidade de ação” com os governistas – os setores da CMS. A adesão ao calendário, a pauta e aos atos com os governistas significou o abandono do trabalho nas bases dos movimentos sindi-cal-popular e estudantil, bem como o abandono da política de formação das oposições sindicais para enfrentar os governistas. A “política de unidade de ação” demonstra-se um grande fracasso, pois os próprios governistas boicotam os atos e as bandeiras de “unidade” e, ao mesmo tempo, conseguem se manter com um discurso pseudo-radical em relação ao governo Lula/PT/PCdoB. Essa política do PSTU agora se encaminha no sentido de liquidação da CONLUTAS em favor da fusão com os “para-governistas” da INTERSINDICAL.” Série Documentos, Política & Teoria Vol. 3 – UNIPA Agora tentaremos analisar os nome mais cotado da esquerda burguesa à Prefeitura de Fortaleza: Inácio Arruda(PCdoB). Na segunda parte do programa o entrevistado foi Inácio Arruda. Ele respondeu à apresentadora do Programa que sua principal proposta era retomar a criação do Instituto Municipal de Planejamento e que sua gestão seria pautada por planejamento. O que Inácio Arruda esqueceu de mencionar é que no capitalismo transnacional quem decide o plano diretor da cidade não é o suposto prefeito, mas o poder econômico da cidade e de fora dela. Assim, o prefeito, o governador, o presidente – seja quem for – decide algo mas o Banco Central e as grandes corporações mundiais decidem outra. Assim foi visto com a Torre do dono da Coca-cola Tasso Jereissate construída no meio de uma área de perservação ambiental (o mangue do Parque do Cocó) ou o supermercado Extra construído criminosamente em Parangaba em plena gestão de “esquerda” da sr.ª Luiziane Lins. Então, não há diferença muito significativa em que ganhe Moroni, Inácio ou outro burguês de plantão. Pois sempre quem decidirá o jogo final será a burguesia. O poder econômico é quem decide o desenho urbano de uma cidade, ou seja, quem vai morar na Aldeota e na Água Fria e quem vai morar nas inúmeras áreas de risco de Fortaleza. E isso Moroni ou Inácio não aprofundam. NOSSA PROPOSTA “Política é subalternidade! Escolher política é estupidez!” Internacional Situacionista no Maio Francês de 1968 Votar é delegar poder. É confessar ao político sua pobreza política imensa. Votar é reconhecer que se é um idiota, um tolo, que precisa ser governado, é negar qualquer protagonismo. Por isso o ideal é não ir votar ou votar nulo para negar a democracia burguesa e tentar construir no seu local de moradia, de estudo e de trabalho resistência organizada contra o capital e o seu representante e apêndice: o Estado. Eis o que urge fazer nesse momento. Pois seja o xerife fascista ou o estalinista neo-liberal...Fortaleza continuará tendo um governo policial que não pensará duas vezes em espancar o povo, como fez a Guarda Municipal de Luiziane Lins em greve de professores ou a Polícia Militar do sr. Cid Gomes contra os professores. Não se enganem: quem ganhar vai garantir a “higienização social” pedida pelo grande capital por causa da Copa do Mundo de 2014. Assim, famílias que já são expulsas de onde será construído o VLT, continuarão sendo expulsas caso ganhe o xerife ou o estalinista ou outro burguês. Por isso, não vote e organize-se! Lute contra o capital e o Estado! Pesquisador e ensaísta

terça-feira, 14 de agosto de 2012

ABSTRACT DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE REALIZADA NO SESC-CE

ABSTRACT DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE REALIZADA NO EVENTO SEMANAL CAFÉ E FILOSIA DO SESC-CE EM FORTALEZA NO DIA 9 DE AGOSTO DE 2012. CONFERENCISTA: Prof. Charles Odevan Xavier O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE Autor: Charles Odevan Xavier O propósito desta conferência é investigar a fenomenologia do sagrado no recorte temporal da pós-modernidade.Para tanto fizemos um contraponto com a mesma fenomenologia nos períodos da modernidade e pré-modernidade ocidental.Baseando-nos em teóricos da religião como Pondé, Eliade, Barth, Berger, Durkheim e em críticos sociais como Marx, Adorno, Horkheimer, Debord, Weber questionaremos sobre se o desencantamento do mundo da Modernidade foi seguido ou não por uma ressacralização e re-encantamento do mundo, da physis. Palavras chaves: Pós-modernidade, Pré-modernidade, Modernidade, desencantamento, dessacralização, ressacralização, secularização.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

BIBLIOGRAFIA DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE REALIZADA NO SESC EM FORTALEZA

BIBLIOGRAFIA DA PALESTRA O SAGRADO NA PÓS-MODERNIDADE REALIZADA NO CAFÉ E FILOSOFIA DO SESC NO DIA 09 DE AGOSTO DE 2012 EM FORTALEZA-CE PALESTRANTE: PROF. CHARLES ODEVAN XAVIER ALVES, Rubem.O que É Religião.pdf APPIAH, Kwame Anthony.Na casa de meu pai: A África na filosofia da cultura.Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. BAKUNIN, Mikhail.Deus e o Estado.pdf BARROS, Rui Sá Silva Tomando o céu de assalto: Esoterismo, ciência e sociedade 1848-1914: França, Inglaterra e EUA.pdf BARTH, Wilmar Luiz. O Homem Pós-Moderno, Religião e Ética – In: Teocomunicação Porto Alegre v. 37 n. 155 p. 89-108 mar. 2007 BASTIDE, Roger. Religiões Africanas e Estruturas de Civilização. In: II Congresso Internacional de Africanistas, realizado em Dakar, Dezembro de 1967. BATSIKAMA, Patricio. O sistema metafísico muntu-angolano.pdf BENISTE, José. Jogo de Búzios: um encontro com o desconhecido - 3ª edição - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. BENISTE, José. 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Os Afetos da Descrença – In: Antropologia em primeira mão / Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis : UFSC / Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, 2009 – v. 114 ; 22cm CORSI. Gina Amoroso Corsi, MOURA, Elen Cristina Dias de. SILVA, Vagner Gonçalves da et al. Intolerância religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007, 323 p., ISBN 978-85- 314-1022-2 – In: REVER - Revista de Estudos da Religião dezembro / 2008 / pp. 149-154 COSTA, Valdeli Carvalho da.Alguns marcos na evolução histórica de Exu na Umbanda do Rio de Janeiro.pdf CUCHE, Denis.Cultura e identidade. In:CUCHE, Denis.A noção de cultura nas ciências sociais – Tradução: Viviane Ribeiro – Bauru: Edusc, 1999. DANDARA E ZECA LIGIÉRO. Iniciação à umbanda - Rio de Janeiro: Nova Era, 2000. DANTAS, Leda. 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sexta-feira, 6 de julho de 2012

O EXU DE ALBERTO MUSSA

O EXU DE ALBERTO MUSSA Charles Odevan Xavier O propósito deste ensaio é analisar o personagem lendário africano Exu (ou Esu) no livro de contos Elegbara do escritor carioca Alberto Mussa – Rio de Janeiro: Record, 2005. O EXU EM “ELEGBARA” Na terceira narrativa homônima do livro Elegbara, Alberto Mussa constrói o seguinte enredo: “Fazia oito gerações desde a chegada de Oraniã, o fundador, que Oió só vinha conhecendo opulência. Daí a apreensão de todo o povo quando o rei deixou de comparecer aos mercados; e o abatimento profundo que logo se seguiu quando começou a correr a notícia da enfermidade que certamente o levaria à morte. O rei não morreu; mas também não melhorou. A doença tornou-se linear, permanente, estagnada como as águas que ficam para além de Ijebu – Odê. Foi quando Oió, a justa, a soberba, decaiu vertiginosamente. O cajado do rei não mais movia o mundo. E as lavouras não vingavam; as mulheres não pariam; os ferreiros não forjavam; vendedores não vendiam; compradores não compravam. Houve seca e houve fome.” p. 49 Como diz o historiador Roberto Motta há na cultura africana uma simbiose entre o oba, o oni e o seu povo. Na cultura africana, diferentemente da ocidental, “O regime econômico baseado na propriedade individual, no lucro particular, constitui novidade histórica. Só se encontra plenamente desenvolvido, no Ocidente, depois da Idade Média. Não faltam esboços de apropriação privada noutras culturas e época. Mas a regra é a subordinação do individual ao comunitário; das vantagens de alguns a interesses mais gerais. Só na Europa e em seus prolongamentos ultramarinos é que se encontra o tipo de economia autônoma, independente de direitos grupais sobre coisas e pessoas; desvinculada de controles éticos e religiosos; erigida em finalidade que contivesse sua própria justificativa, capaz de submeter a seus interesses todas as outras energias sociais e culturais.” Assim, o Rei não age autonomamente, age em função do reino, em função dos clãs e tudo prospera. Mas eis que surge um andarilho: “Oió estava a ponto de desesperar, quando apareceu, de súbito, vindo ao que parece do país nupê, um estranho andarilho de sorriso debochado. Carregava um bornal e uma catana, fumava cachimbo e tinha um gorro preto e vermelho. Parou bem na frente do mercado, onde se fazia uma assembleia. Foi notado por um dos mais velhos. – O reino é morto. Os estrangeiros não são bemvindos. – Não é esta, ancião, a fama de Oió, a justa. E eu vim pela justiça. – Dize quem és e para onde vais. – Não sei se hei ido ou se fui havido; mas irei ser e serei ido. – O que queres andarilho? – Quero apenas ser querido. Não é o vosso rei que se há tomado de um mal sem cura? – É sem cura o mal; não houve sábio capaz de vencê-lo. Não há mais que fazer em Oió. O andarilho deu então uma larga risada: – Não é esta, ancião, a fama de Oió, a soberba. E vim pela galhardia.” pp. 49-50 O andarilho é Exu, o orixá africano das encruzilhadas. E como se define Exu na prosa de Alberto Mussa? “-Eu sou andarilho antigo. Venho de andar muitas léguas. A terra é do meu tamanho. O mundo é da minha idade. Não há números para contar as proezas que fiz no tempo em que tenho andado: colhi mel de gafanhoto; mamei leite de donzela;esquentei sem ter fogueira; cozinhei sem ter panela; já fiz parto em mulher velha; emprenhei recém-nascida; trago a cura das moléstias e as perguntas respondidas. Quando soube do mal do vosso rei, vim oferecer os meus serviços. Só que tudo tem seu preço.” pp. 50-51. Ou seja, o que é este andarilho? Qual o seu papel na sociedade africana? Exu é o nganga, um feiticeiro, um sortílego, alguém que domina as noves portas, os noves dons (vide a obra do historiador Wilson do Nascimento Barbosa). Daí ele se sentir o máximo e poder prometer cura ao rei e ao reino da enfermidade, da perda de axé. Os Ngangas na cultura africana nascem com os dons e os aperfeiçoam iniciando-se sozinhos ou em sociedades secretas no meio da mata. A mata com seus mosquitos, espinhos, frutas venenosas, mas também ervas e fármacos curadores, assim como hordas de espíritos da floresta é que é a escola dos ngangas. Mas como todo bom feiticeiro ou sortílego, Exu não trabalha de graça. “- Oió é justa e é soberba; o andarilho haverá o preço que pedir. – Eu quero o preço justo. – E que preço é esse? – O que tenha a maior grandeza e caiba na menor medida. Ninguém entendeu. Nem prestou atenção. A fé humana está sempre além do próprio homem: o andarilho foi introduzido nos aposentos reais. E foram só trés dias. Todo o povo estava amontoado na praça do mercado quando as esposas saíram correndo do palácio para anunciar que o rei já estava de pé. A festa foi programada para a feira seguinte, mas a alegria se antecipou. Oió tornava ao que tinha sido. E até uma chuva serena chegou a reavivar o colorido da savana ressequida. Na data marcada, o rei reapareceu, cercado de pompa e aclamação. Dirigiu-se ao trono, no centro do mercado, e elevou a voz: – Que venha até mim o andarilho da carapuça vermelha e preta! Quando este se aproximou, o rei disse: – A gratidão de Oió não tem medida. Que o andarilho diga o preço. – Eu quero o preço justo.” pp. 51-52 Assim, o rei ofereceu várias prendas ao andarilho (cem peças de marfim, trinta catanas de ferro, dez partidas de contas de vidro, cinquenta escravos, entre outras). Mas o andarilho sempre retrucava: “- É pouco; e não cabe no meu bornal.” Até que o Rei ofereceu o próprio reino como prenda: “- É pouco; e não cabe no meu bornal. Houve um breve silêncio e o andarilho prosseguiu: – Não pode viver quem deve a vida. Eu quero a cabeça do rei. Ninguém acreditava no que ouvia. O rei desabou sobre o trono aterrado: – Como pode cobiçar minha morte quem veio para me curar? É um absurdo, uma covardia, uma infâmia, uma ingratidão! – Não – disse o andarilho -, é o preço.” pp. 52-53. – E o final surpreendente da trama: “E Oió não resistiu, como não resistiria pouco mais tarde ao assédio nupê. Compreendeu que, naquele momento, qualquer condescendência seria uma iniquidade; que o bem ideal era uma impossibilidade teórica. E o andarilho caminhou na direção do rei, decepou-lhe a cabela, meteu-a no bornal e, antes de desaparecer na curva da estrada, gargalhou pela última vez: – Ko si oba kan, ofi Olorun. E tinha razão: não há rei senão Deus. Elegbara é assim.” p. 53 Na metáfora da psicóloga junguiana Sônia Regina Corrêa Lages, O rei representaria o senex, o velho,o estabelecido, o estático, a ordem; enquanto Exu representaria o puer, o jovem, a instabilidade, o dinâmico, a desordem, o movimento. Um pai de santo de umbanda cruzada com angola me advertiu certa vez que não brincasse com o Exu (já que estava tentando aprender a jogar búzios sem ter mão de Ifá e sem ter um pombo ungila assentado), pois segundo ele: – Exu brinca com você mas você não brinca com Exu. O Exu de Alberto Mussa não é com certeza o Exu-egum da quimbanda brasileira, mas tampouco deixa de ter a ambiguidade do Exu-orixá da cultura iorubá. Quando os missionários pentecostais americanos foram a África e viram os igbás de Exu (um montículo de terra com um enorme pênis de madeira ou barro e sangue derramado) associaram o deus africano ao seu Diabo. Assim, Exu foi satanizado pelo cristianismo pentecostal e neo-pentecostal e ambiguamente assimilado pela quimbanda brasileira. Exu é orixá do movimento, da encruzilhada. A encruzilhada não é boa nem má, ela tem vários lados e várias possibilidades. E este dimensão multifacetada não cabe num Diabo cristão, que representa só o lado negativo da coisa. Assim, o andarilho curou o rei e o reino, mas pediu a cabeça do rei porque não gosta da presunção. A historiografia diz, que no Brasil, os escravos negros se utilizaram bastante de Exu para enfeitiçar os senhores brancos. Assim, Exu virou um aliado dos negros e não-negros pobres e um inimigo dos brancos ricos e poderosos. Alberto Mussa elaborou um conto de fina erudição, baseada na sua biografia de capoeirista e praticante de umbanda e alabê de candomblé. Os outros contos do livro merecem ser lido pois mostram a riqueza da cultura negra.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

VÁRIAS POSSIBILIDADES, NENHUM DINHEIRO POR PERTO

São várias possibilidades. Posso continuar estudando a diáspora negra e a cultura africana. Ou posso ir de mala e cuia para a comunidade tapeba estudar a espiritualidade tapeba. Posso ministrar un curso sobre escritores gays brasileiros. Posso ficar sentado esperando um telefonema ou um próximo e-mail que salvará o dia, a semana, o mês ou quem sabe...o ano?

sexta-feira, 22 de junho de 2012

NEGRITUDE E HOMOAFETIVIDADE NO ROMANCE O TRONO DA RAINHA JINGA DE ALBERTO MUSSA

NEGRITUDE E HOMOAFETIVIDADE NO ROMANCE O TRONO DA RAINHA JINGA DE ALBERTO MUSSA Autor: Charles Odevan Xavier O propósito deste ensaio é esmiuçar a construção dos personagens negros no romance O Trono da Rainha Jinga do escritor carioca Alberto Mussa (Rio de Janeiro: Record, 2007.) Assim, o ensaio pretende analisar também o grau de pertencimento à cultura negra por parte de escravos ladinos, boçais, forros e o relacionamento com os chamados brancos. Até que ponto os brancos do romance estão certamente convictos dos valores judaico-cristãos católicos ibéricos ou de que forma esses brancos se misturam (ou se perdem) nos costumes dos pretos. TENTANDO FALAR DO ENREDO... O romance O Trono da Rainha Jinga está dentro de dois gêneros: o policial e o histórico. Embora o autor negue a segunda categoria no posfácio, inegavelmente a obra de Mussa se filia no espírito das tramas históricas. A trama se passa em Angola, Goa e Rio de Janeiro seiscentistas e gira em torno de uma suposta heresia perpetradas por escravos negros, a heresia de Judas. Há uma galeria multifacetada de personagens: Mendo Antunes, o armador e baleeiro lusitano que enricou em terras de Goa e vai para Angola por não se adaptar aos costumes indianos. Lá chega e passa a fazer transações comerciais com a Rainha Jinga, uma africana que o impressiona por falar fluentemente o português. Gonçalo Unhão Diaz, o juiz e ouvidor geral brasileiro, que faz amizade com o baleeiro e divide com ele suas impressões sobre os supostos crimes perpetrados pelo grupo de heréticos escravos. A preconceituosa e prepotente viúva do alferes e ferreiro, que a despeito de odiar os escravos; reconhece que sobrevive às custas das esmolas de um deles: o escravo Cristóvão. Este escravo, por sua vez, tem importância na trama por ser membro da Irmandade (o grupo herético de escravos), por ser apaixonado por sua líder (a sádica escrava Ana) e por cometer desatinos com o próprio corpo em nome desse amor (como furar os olhos e queimar a língua). Outro escravo importante na trama é Inácio. Educado por padres, aparentemente cristão, culto e alfabetizado. No final da trama revelar-se-á como peça chave nas onda de crimes contra senhores brancos. Há também um curioso índio na trama. Ele é herborista e presta serviços para líder da Irmandade. Ele cria com os fármacos da mata as puçangas e o importantíssimo: divumo diazele, um “violento e letal purgante de cujo preparo especialmente me orgulho” p.73 Este veneno terá importância capital na trama, pois a encomenda da líder da Irmandade detonará uma série de crimes: “Ana conhecia a mandioca brava. Acreditei: se os portugueses trazem gente de lá, podem bem levar de cá uma planta que cresce praticamente em qualquer chão. Só estranhei quando me perguntou se eu conseguiria preparar com aquela raiz um veneno em pó, que não alterasse o paladar e a cor dos alimentos, e que tivesse um efeito tão mortal quando o da água que se esgota dela.” pp. 71-72 Há também uma feiticeira açoriana na trama amancebada com um forro velho, aleijado. A importância dela na trama é porque em sua casa onde recebe clientes brancos de várias procedências, ela receberá frades escondidos que vêm em procura de seus vaticínios. Acontecerá um crime com esses frades que é testemunhado por um dos clientes da feiticeira. “Pois eu tinha ido lá, na casa dessa feiticeira. Era uma mulher sibilina, perigosa, que adivinhava o futuro e preparava filtros para os males do amor, da saúde e da fortuna.” p. 25 O ESTILO NARRATIVO O Trono da Rainha Jinga é narrado por múltiplos narradores constituindo-se num romance polifônico. Isso torna a leitura rica e desafiadora, pois se o leitor não estiver atento à mudança de vozes narrativas perderá o fio da meada. O narrador onisciente só aparece em alguns capítulos quando narra as peripécias envolvendo Mendo Antunes. QUAL O PROPÓSITO DA IRMANDADE? Na pág. 49 o escravo Cristóvão explica a origem da Irmandade: “Fui dos primeiros irmãos. No início, éramos apenas três, dando fuga a escravos e roubando viandantes nas estradas. Muito dos que estão nos quilombos foram libertos por nós. Muitas das cartas de alforria adquiridas pelos padres foram pagas com o nosso dinheiro. Mas era uma subversão atormentada, sem plano. Pode-se mesmo dizer que não tínhamos um objetivo. Até o aparecimento de Ana” A HERESIA DE JUDAS O escravo Cristóvão, autor do que passa a ser conhecido nas senzalas como Heresia de Judas, explica o sentido da mesma: “Enquanto a irmandade se reestruturava, eu refletia. E compreendi, com base no seu próprio pensamento, que Ana não chegaria a lugar algum daquela forma; compreendi a verdadeira lição que se ocultava na história de Judas e Cristo. Se alguém quisesse remir a humanidade pela dor, não poderia ter permitido que esta fosse compartilhada por um outro homem. Judas sentiu em relação a Cristo o mesmo que eu, quando ajudei a trucidar aquele miserável.” pp. 50-51 “Foi quando comecei a difundir a verdade que logo ficou conhecida como a heresia de Judas. Essa verdade que passou a ser o assunto das senzalas. Porque basta um sofredor para que o bem geral se faça. Serei eu esse sofredor. Pelo amor de Ana. Ainda que ela me persiga, me expondo a prazeres que não quero suportar.” p. 51 A ATORMENTADA PSICOLOGIA DO FRADE “ADIVINHAÇÃO (gr. (lavxeía; lat. Divinatío; in. Divínation, fr. Divination; ai. Wahrsagung; it. Divinazioné). Profetização do futuro, com base na ordem necessária do mundo. Era admitida pelos estóicos, sendo, aliás, assumida como prova da existência do destino. Crisipo achava que as profecias dos adivinhos não seriam verdadeiras se as coisas todas não fossem dominadas pelo destino (EUSÉBIO, Praep. Ev., IV, 3, 136). Para Plotino, a A. é possibilitada pela ordem global do universo, graças à qual todas as coisas podem ser consideradas sinais das outras. Os astros, por exemplo, são como cartas escritas nos céus, que, mesmo desempenhando outras funções, têm o papel de indicar o futuro {Enn., II, 3, 7). A A. baseada no determinismo astrológico foi admitida pelos filósofos árabes, especialmente por Avicena, e destes passou para alguns aristotélicos do Renascimento, como p. ex. Pomponazzi {De incantationibus,10).” Dicionário de Filosofia/Nicola Abbagnano – 5ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2007. “Aquele que recorrer aos necromantes e aos adivinhos para se prostituir com eles, voltar-me-ei contra esse homem e o exterminarei do meio do seu povo.” Levítico 20, 6 “O homem que se deita com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação; deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles.” Levítico 20, 13 “ρονευω porneuo 1) prostituir o próprio corpo para a concupiscência de outro 2) estregar-se à relação sexual ilícita 2a) cometer fornicação 3) metáf. ser dado à idolatria, adorar ídolos 3a) deixar-se arrastar por outro à idolatria” “733 αρσενοκοιτης arsenokoites de 730 e 2845; n m 1) alguém que se deita com homem e com mulher, sodomita, homossexual” DICIONÁRIO BÍBLICO STRONG Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong - SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL Na obra chama a atenção a quantidade de brancos católicos que absorvem parte das crenças africanas, como por exemplo os clientes do calundu da feiticeira açoriana (ela mesma uma branca que absorveu a magia negra europeia com ciganaria, judiaria e as religiões tradicionais africanas devido a sua amasia com o forro que a auxilia com pontos riscados).Da qual concluímos preliminarmente que estes brancos católicos ou não entenderam o providencialismo bíblico ou não o aceitam. Mas um dos personagens mais curiosos é o frade carmelita. O frade é cliente da feiticeira açoriana. E por tal hábito ele acaba sendo visto por outro cliente, que o reconhece enquanto frade e este cliente fica horrorizado de ver um homem do clero católico frequentando um lugar como aquele: “Quando a conhecemos (porque fomos juntos eu e minha mulher) desejávamos enriquecer e não apenas deixar de passar fome. Tínhamos uma noção muito precisa do que fosse felicidade, no Rio de Janeiro, para não termos ambição. Por isso suportamos a espera no vestíbulo, abafados, amarfanhados, cercados por toda casta de gente e envolvidos por um bafio nauseabundo, até que o forro nos chamasse. A açoriana, sentada à mesa e coberta de colares e anéis de latão, tinha diante de si apenas um baralho sebento, que manipulava segundo vários métodos, naturalmente no exercício de decifrar sua mensagem.” pp. 25-26. O frade carmelita ao ser reconhecido pelo cliente o suborna com duas patacas, pedindo discrição. Vamos analisar a atormentada psicologia do frade. O frade se atormenta pela relação homossexual com outro frade chamado Francisco vaticinada pela feiticeira Açoriana, o que dá credibilidade ao trabalho dela perante o frade. E também se angustia por não esperar pela providência divina como ensina os códex do Vaticano acabando por frequentar o calundu: “Assim, a temporalidade do mundo, de que me deveria apartar (grifo nosso), me obcecou. E me envolvi com ciganas, cabalistas, astrólogos. Até pecar.” p.93 Vejamos como o frade encara a sua homossexualidade: “Ainda não tinha enfrentado o olhar de ninguém: do prior, dos padres, dos meus companheiros de ordem (especialmente do irmão Francisco, a quem imundicei com a lama do pecado) e sequer dos escravos do convento (de quem nunca cheguei a ter suspeitas). O julgamento unânime dos homens certamente me atribuía alguma espécie de remorso ou vergonha. Talvez nem mesmo Deus houvesse de me compreender.” p. 91 A obra do jornalista João Silvério Trevisan Devassos no paraíso: (a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade) – Ed. revisada e ampliada – 6ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2004. - nos ajuda a entender o motivo da angustiada orientação sexual do frade carmelita. Também a obra historiográfica do antropólogo e militante gay Luís Mott sobre a homossexualidade na África lusófona e no atlântico negro é um guia para compreender os ansiosos e angustiados homossexuais seiscentistas. Como também não podemos esquecer as duras palavras do Levítico no Antigo Testamento em relação aos chamados homoafetivos, que a Bíblia nomeia pelo adjetivo genérico de sodomitas. Assim o frade confessa o gosto sodomita ao abade do convento: “Falei da minha paixão por um prazer do século. Padeço desse mal (grifo nosso) desde antes de prestar meus votos. Os corações vulgares deverão dizer que amei ou amo através da carne. Não chega a ser assim.” p. 92 Ou seja, o frade experimenta o desejo homossexual mas o sataniza, o vê de uma forma pejorativa e depreciativa. Porque como frade ele introjetou a noção de culpa que penaliza os gays no Levítico. E além de gay o Frade comete outro pecado: prostitui-se com necromantes e adivinhos. Sim! Prostitui-se! Eis o pesado verbo bíblico para quem vai num macumbeiro. Vejamos como ele afirma o seu “pecado”: “De início jogar às cartas tinha um sentido meramente lúdico. Fascinavam a expectativa do sucesso e o temor do fracasso. Mas com o envolver do tempo, passei a experimentar, em determinadas ocasiões, a convicção acentuada de estar com sorte – o que se confirmava na maioria das vezes. Por isso, porque aprendi a pressentir tais instantes, não me tornei um perdulário e não dispus da minha fortuna de família mais que o necessário para esse pequeno capricho do mundo. Não sei como começou. Mas quando dei por mim, tinha formada uma noção concreta da previsibilidade do por-vir – que não necessariamente conflitava com o livre-arbítrio. Minha tese encontrava apoio na próprias escrituras: Cristo predissera a traição de seu primeiro apóstolo. Portanto, ao menos certos passos, certos momentos, certos eventos da vida estavam escritos, traçados por uma vontade superior, senão divina.” pp. 92-93 “Porque passei a crer, porque pretendi – de livre e boa vontade – ter o domínio do futuro. Não apenas para conhecê-lo; mas para jogar com ele.” p. 93 Deste modo, vemos um homem tipicamente seiscentista. Não podemos esquecer que o Brasil - a despeito de ser produto da Renascença e do ciclo das navegações comerciais mercantilistas - vive no espírito ideológico da Idade Média. Assim vemos um frade dividido entre o racionalismo, as heresias e o apego à ortodoxia judaico-cristã. Também é digno de nota que na Renascença ainda há a Santa Inquisição e o Santo Ofício pune severamente hereges e sodomitas. E por que seiscentista? Porque com o ciclo das navegações e a descoberta do novo mundo (o continente americano), o contato com mercadorias e ideologias da Índia e China e a escravidão compulsória dos africanos, o mundo ficou confuso, em crise de paradigmas. De repente o medievo teocentrista e judaico-cristão perdeu credibilidade no contato dos viajantes com a feitiçaria africana. Sim! O homem não deveria aceitar passivamente a providência, o destino, o fado. Poderia alterá-lo e modificá-lo com magia e despachos. Assim, o mundo europeu desestabilizou-se. E é nesse espectro do fetichismo africano, que surgem brancos como a feiticeira açoriana que não dispensa os pontos riscados do amante forro ou o frade carmelita que acredita nos seus vaticínios. A cultura africana crê na fatalidade, que o destino do homem está predeterminado e pode ser “lido”. Seja através do opelé ifá, do meridilogun (jogo de búzios), do ngombo (estranho oráculo dos povos bantófones da África meridional). Qualquer método é válido para ler o destino seja com o cauri seja com o obi ou seja com os ossos do ngombo. Porque este povo pressupõe que cada um traz o destino de berço e basta ao babalaô, ao ndoki, ao nganga decifrá-lo. O destino na cultura africana subsaariana de expressão iorubá-nagô é chamado de odu. E cabe ao babalaô olhar o búzio para saber com aquele cliente o que aconteceu no passado com um ancestral semelhante. O Brasil, representando o novo mundo, também tem suas crenças indígenas nativas onde a relação entre os vivos e mortos fazem com que todos sejam meio vivos e meio mortos ao mesmo tempo. Pois há na cultura indígena um intercâmbio quase simbiótico entre o que o vivo faz e o que o seu ancestral morto quer e deseja para ele. É desse mundo confuso seiscentista que surge um frade carmelita como o descrito pelo romancista Alberto Mussa. Se ainda hoje os gays, principalmente aqueles que introjetaram algum valor judaico-cristão dos seus pais, experimentam algum grau de culpa pelos seus hábitos sexuais, imaginem para um gay naquela época. Logo o frade gay e macumbeiro de Alberto Mussa tem total verossimilhança. CONSIDERAÇÕES FINAIS No romance O Trono da Rainha Jinga o escritor carioca Alberto Mussa patenteia sua enorme erudição que concilia etnologia, linguística africana, história colonial com um enredo cativante e final surpreendente. Pesquisador e ensaísta.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CRÍTICA À EXPOSIÇÃO "ENTRE FICAR E IR EMBORA"





CRÍTICA À EXPOSIÇÃO “ENTRE FICAR E IR EMBORA”
Charles Odevan Xavier

Este ensaio visa analisar a Exposição “Entre Ficar e Ir Embora” da dupla “Máquinas que não funcionam” formada por Cris Soares – CE e Emanuel – CE, em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste” até 12 de Fevereiro de 2012 em Fortaleza-CE.

A Exposição da dupla teve a colaboração/orientação da artista Waléria Américo. Reúne trabalhos de desenhos, fotografias, vídeos e instalações.

APROXIMAÇÃO COM AS VIDEO-ARTES DA DUPLA

Em “Máquina Faz Love” - animação de 6:59 (2010 – um cyber coração vermelho desenhado batendo e bombeando sangue através de canos de ferro. No fundo onde há linhas pulsantes de um eletrocardiograma é sugerido uma cidade grande em cores verdes.

A trilha-sonora resume-se ao suposto barulho do coração batendo.

O desenho é bem feito, mas o espectador fica sem saber se a obra é uma ironia à era tecnocientífica que instrumentalizou até o amor e o desejo ou se é justamente o contrário: uma celebração a uma época de amores plastificados.

Em “Remover este Destino” - (2011) o espectador vê no centro da sala uma plataforma, onde é projetada uma animação que simula as imagens via satélite de uma cidade vista por cima.

A medida que o espectador se aproxima de alguma parte da superfície, um programa de computador move um cursor em cima da imagem fazendo aparecer ruas de um bairro nobre de alguma metrópole, que não se sabe se é Fortaleza ou não. Depois de um certo tempo a imagem amplia-se até ficar num fundo azul texturizado e pixelizado.

Eu como sou um leitor de teoria crítica logo imagino uma associação com a distopia de George Orwell em “1984”, a qual escrita na década de 1930 imaginava um mundo administrado(Herbert Marcuse) e controlado por um televisor onipresente. Hoje o Google Map talvez seja a materialização da sinistra época do “Sorria! Você está sendo filmado!”, cujo reality-shows como BIG BROTHER é apenas sua face mais cínica e tola.

Mas não posso dizer que outros espectadores tenham “politizado” a obra como eu fiz. Afinal a arte, como diz a teoria da informação: não está no autor mas no receptor.

Em “Roupa de Abraço” - (2011) – Um casal vestido com roupas listradas preta e branca de frente um pro outro. O foco da câmera se aproxima do corpo do casal que se abraça.

A cenografia é de um compartimento sem reboco e com lâmpadas penduradas na altura da cintura cria uma atmosfera claustrofóbica.

Depois de um certo tempo o espectador percebe que o casal tem um velcro nas roupas que o gruda um no outro.

Uma possibilidade de semiose: o amor, o desejo, “Eros” na pós-modernidade é sempre vinculado ao “Pathos”.Assim, nunca saímos indeléveis de nossos raros momentos de amor contemporâneo.


A instalação “Coluna”(2011) exibe dois suportes diferentes. Num deles há uma folha de compensado onde a dupla pintou uma coluna cervical em tons brancos e as “costelas” foram feitas de arame enferrujado.

Noutro ponto do espaço há uma coluna de alvenaria visivelmente feia, inacabada, “art brute”.

Uma possibilidade de leitura em que os dois “eixos”( a coluna do corpo e a coluna de alvenaria) simbolizam a fragilização emocional contrastada com a brutalidade dos afetos típica de nossa época de contatos interpessoais digitalizados e mediados por máquinas eletrônicas, faz o corpo humano aparecer escaveirado e fragmentado. Se o leitor não gostou do auto referencialidade da explicação não se preocupe, pois a contemporaneidade é autorreferencial por excelência.

Em “Tijolo”(2011) há dois suportes. Numa folha branca grande aparece um tijolo vermelho pintado em acrílica. Numa outra folha branca menor e ao lado desta, há um rascunho feito em grafite, um estudo do tijolo que vemos colorido do lado.

Será que o tijolo é uma referência de que tudo precisa de um bom alicerce, de uma boa fundamentação para que tenha consistência epistêmica? Pode ser.

Em “Demolições' (2011) Num pequeno quadro com moldura um desenho em nanquim de uma moça nua em cima de uma pilha de objetos cotidianos. Circundando há uma prosa-poética que fala de demolições.

Em “Passarinho pega-ladrão”(2011) uma fotografia colorida mostra um ninho de pássaros sobre um chão de pedregulhos e a dupla de artistas colocaram um pega-ladrão enferrujado.

Em “Caracol-buzina”(2011) numa fotografia colorida a dupla deu um close num objeto metálico corriqueiro também enferrujado.

Em “Desenho de Domingo” um nanquim sobre papel verger mostra uma moça nua, que segura uma haste, onde tenta equilibrar num lado uma porção de barquinhos de papel e noutro um pássaro pousado, para piorar a situação da moça a mesma está sobre um banquinho de madeira.

E por último na instalação “Carta para você” (2011) há uma mesa grande, onde foram colocadas duas máquinas datilográficas manuais antigas com o teclado danifado. Uma em cada ponta da mesa. Ao lado de cada máquina há um pilha de papéis oficios onde se lê o vocábulo 'amor' datilografado inúmeras vezes.

QUE SÍMBOLOS A DUPLA TOCOU?

Se olharmos cada obra da exposição “Entre ficar e ir embora” como frases de um único texto, o que revela esse texto? Esse todo? Cada significante revela uma época em que a subjetividade dos seres humanos do capitalismo transnacional pós-industrial se embotou enrijecendo-se (alvenaria), onde a afetividade se plastificou (a pilha de cartas amaradas) ou se esgarçou (interatividade “high tech”).Assim, o ser humano angustiado vive o dilema de ficar (e portanto, centrar-se) ou ir embora (expandir-se), sempre na corda bamba como a moça nua que segura barquinhos de papel(talvez feitos com as cartas de amor amassadas e não enviadas) e o pequeno pássaro pousado (simbolizando uma liberdade frágil e fugaz).

Cris Soares e Emanuel conseguiram no seu conjunto de obras, suportes e mídias refletir ou, pelo menos sugerir a reflexão sobre a instabilidade das nossas vidas urbanas demasiada humanas.

Pesquisador e ensaísta.

CRÍTICA AOS VÍDEOS RECENTES DA PRODUTORA ALUMBRAMENTO





CRÍTICA AOS VÍDEOS RECENTES DA PRODUTORA ALUMBRAMENTO
Charles Odevan Xavier

Este ensaio pretende analisar a produção recente da Produtora Alumbramento exposta sob forma de três documentários presentes na Exposição “Viva Fortaleza!1950-2010”; a qual teve curadoria de Patrícia Veloso e que está em cartaz no Memorial da Cultura Cearense do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza – Ceará.

Irei examinar as obras: “Supermemórias” dirigida por Danilo Carvalho; “Casa da Vovó” dirigida por Victor Melo e o “Cidade Desterro” dirigida por Gláucia Soares.

A POÉTICA DA MEMÓRIA

O documentário “Supermemórias” - 35mm, 20 min, CE/BRASIL, 2010 – dirigido por Danilo Carvalho – Dona Bela Amores e Filmes/Alumbramento.

O filme pretende ser um olhar poético sobre a memória afetiva dos fortalezeses anônimos e comuns.

O filme é uma colagem de registros filmográficos caseiros capturados em super8mm de cenas cotidianas da década de 60, 70 e 80 no litoral de Fortaleza.

É interessante ver o filme começando mostrando a pouca ocupação predial da beira-mar fortalezense no ano de 1972.

Na sequência seguinte mostra as ruas do Centro de Fortaleza e sua típica selva de pedra cinzenta.

Em seguida mulheres grávidas aparecem em camas de hospital...corte abrupto: crianças brincando...corte abrupto:um parto no hospital...corte abrupto: onda do mar e imagens capturadas dentro de um barco...corte abrupto: pessoas tomando sol na praia, banhistas pulando da ponte metálica antes da restauração do arquiteto e urbanista Fausto Nilo.

Na trilha-sonora só consegui identificar a voz de Fernando Catatau.

E continuamos vendo jovens de cabelos grandes num provável close setentista; banhistas, famílias ouvindo chorinho e samba; saraus familiares com recitação de poesia.

Tudo muito fragmentado... e tome festas de aniversário de criança.

Até uma interrupção brusca no filme em que aparecem apenas texturas gráficas, enquanto em off voz de pai procura filho e depois voz de mãe pergunta por filho na secretária eletrônica.

Depois o filme volta a mostrar cenas caseiras de “bang bang” de meninos no quintal.

Desfiles de 7 de Setembro desfocadas com imagens sobrepostas de assembléia do movimento estudantil.

Como se vê a arte pós-moderna (Fredric Jameson) ou contemporânea (Michael Archer) canta a banalidade do cotidiano, o ordinário, o comum; e o único momento que o filme poderia ter um viés mais engajado não chega a durar nem 40 segundos, revelando que nós não temos mais tempo para o empoderamento polítcio, para a militância; pois a Assembléia de estudantes (um deles tem uma blusa b ranca com o rosto do Che Guevara) soa como um protesto datado, silencioso e impotente contra o desfile militar que conta com mais segundos, cores, barulhos, sons e glamour.

Assim, diríamos que num filme de 20 minutos - que assisti em pé dentro de um museu – sobre o passado de Fortaleza vivido nos anos de chumbo da ditadura militar há apenas 40 segundos de política explícita, o resto é preenchido pelo mais aborrecido, desfocado, corriqueiro e chato cotidiano.Talvez a intenção política do documentário seja a de mostrar que naqueles anos as pessoas comuns também iam a praia se divertir para talvez esquecer que estavam sob o jugo do momento mais duro do governo Médici.

O resultado icônico é que o vídeo é bem realizado e editado e a trilha-sonora ajuda a criar um clima saudoso nos que eram jovens naqueles anos e curioso nos decendentes dos personagens daqueles anos.

A POÉTICA DA DOMESTICIDADE

No documentário “Casa da Vovó” - miniDV, 24 mim, CE/BRASIL, 2008 – a direção é de Victor de Melo e Alumbramento.

O filme em preto e branco começa com uma criança cantando uma canção folclórica:”como pode o peixe vivo?...”

Dissolvência numa parede branca revelam cenas familiares.

Depois a mesma menina aparece sentada choramingando em cima de uma cama com um livro da escola do lado. Com o tempo ela ri, sugerindo a doçura da infãncia.

A câmera foca o fogão na cozinha fazendo almoço. Uma voz de mulher idosa canta uma música do cancioneiro popular que não consigo identificar.

Depois close na Santa ceia que aparece empendurada numa parede.Sons metálicos de panela e louça.Programa policial de tv ao fundo sonoro.

Foco na cozinha da casa.Fotogramas em dissolvência revelam as festas de aniversário que provavelmente aconteceram ali.

Em seguida uma moça varre a casa.Ao fundo programa esportivo radiofônico.Nesse momento a alvenaria danificada da casa (rebôco caindo) sugere o estrato social de baixo poder aquisitivo daquela edificação.

Jogo de claros e escuros nos “combobòs” e frestas para o quintal onde são estendidas roupas no varal criam agradáveis geometrizações plásticas.

Em seguida uma câmera num tripé mostra num giro de 360º graus a sala de estar dessa casa simples. Chama a atenção a quantidade de gaiolas de pássaros nos sofás.

A arte pós-moderna faz pastiche e assim aparecem meninos mulatos brincando no “terreiro” da frente da casa que evocam o fotógrafo francês Pierre Verger.

Depois close de calendários ou sobre santos católicos compondo uma cenografia “Kitsch” ou cafona.

Uma vela acesa em frente a um santo católico brilha criando forte impacto visual e começa o programa de rádios do Pe. Manzotti, enquanto a moça limpa o banheiro.

Dois planos de imagens justapostas revelam numa metade algo que parece ser uma tela de computador ou tela de televisão e na outra metade: um varal no quintal com bermudas masculinas.

“Casa da Vovò” celebra o cotidiano, o familar, o afetivo, o lugar da delicadeza e da ternura.Além de ser muito belo para os olhos.

A POÉTICA EM TRÂNSITO

O documentário “Cidade Desterro” - DV, 15 mim, CE/BRA, 2009. - dirigo por Gláucia Soares e Alumbramento começa com uma voz feminina em off que descreve o que Glaucia faz com objetos cênicos.Só que mostra apenas os gestos e objetos, o resto do corpo de Glaucia não aparece.

Uma segunda voz feminina diz uma prosa-poética.E numa poética em trânsito a personagem percorre diversos bairros de Fortaleza.Assim temos belas imagens do pôr do sol na Barra do Ceará próximo a ponte do Rio Ceará.E a prosa poética pontua o lugar de forma bonita.

Depois imagens no interior de um ônibus indo ou vindo da Praia do Futuro onde uma mão cola fotos na vidraça da janela do ônibus. Em seguida imagens no interior de um carro revela os morros do Rio de Janeiro ou o aeoroporto Galeão.

Depois a câmera mostra um playground na cidade 2000.

Fotos em preto e branco de homens construindo uma casa.Papel boiando na água do mar.Três negativos de foto são levadas na correnteza.

Uma foto de Glaucia some na correnteza e espuma.

Uma caixa coberta por um papel de bolinhas aparece.Glaucia tira objetos dela: cartas, cd do Chico Buarque, Fotos, pequenos bilhetes feitos à mão, slides, um cd de Elza Soares e o livro “As veias abertas da América Latina” do esquerdista mexicano Edaurdo Galeano.

No inicio do filme eu pensei que a primeira voz feminina sempre descrevendo o que em seguida se ver, fosse um procedimento estético proposital de estranhamento brechtiniano.Mas só no final da projeção e com os letreiros finais é que descubro que se trata de uma áudio descrição para deficientes visuais.

Dos três vídeos examinados é este o mais singelo, leve, com sua bela prosa-poética refrescante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os três vídeos revelam sua filiação a um “zeitgeist” pós-moderno: em que o político é difuso e estetizado; o sagrado, quando aparece, é “kitsch” e cafona; e o familiar e o banal são glamourizados.

Vale a pena ser visto, ainda que ficar em pé nos 59 minutos totais dos três juntos possa causar algum desconforto para o espectador.

Pesquisador e ensaísta.

domingo, 22 de janeiro de 2012

CANÇÃO DOS FRACASSADOS


Estou numa festa de aniversário de uma amiga
fui convidado
todos estão alegres e bêbados
ouvindo rock dos anos 60
e entrei num quarto
e digito esse post

Eles estão brindando o sucesso de suas vidas
Todos ganham dinheiro com suas formaturas
ou tem família que os apoie.

Eu mesmo formado, mal tenho o dinheiro do ônibus
e celebro o fato de ser um desajustado econômico
mas em comparação com um terço da humanidade
desempregada: não estou sozinho.

E canto a canção dos fracassados!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O ESTRESSE DO DIA 05 DE JANEIRO DE 2012





O ESTRESSE DO DIA O5 DE JANEIRO DE 2012
Charles Odevan Xavier

Para poder estar escrevendo essas mal traçadas linhas tive que passar por um perengue familiar, um conflito mesmo com minha mãe, irmã e prima.E minha sobrinha ficou chorando.

Tudo motivado pelo valor da bateria nova do computador.Então posso dizer que meu desassossego familiar custou os módicos cento e cinquoenta reais da bateria nova.E que dinheiro suado!Tudo porque não queria levar o computador para um eletricista mequetrefe que fez apenas gambiarras com a bateria velha( e que sempre se esculhambava) e tinha que voltar lá pra pagar mais pelos consertos que não sustinha em definitivo o defeito.

Faz algum tempo que sei que minha família não fala o idioma que falo.Temos sempre dificuldades de comunicação.Assim, como sou orgulhoso cem-por-cento-de-ferro-nas-calçadas, sempre tenho problemas de sentir-me humilhado, quando peço o dinheiro à minha família que, pela idade quarentona que tenho, poderia já tê-la sem problemas na conta bancária.

Dependo no momento de projetos sociais ligados a uma ONG umbandista.E nenhum dos projetos até agora recebeu verba ou averbação do governo federal.

Minha família me pressiona por resultados imediatos.E não tenho no momento esses resultados imediatos.Isto causa um tensionamento insuportável às vezes.Sinto que minha família não dá crédito aos meus projetos.

E estou envolvido em projetos sociais desde 2010.E dois anos para minha família soa como 40 anos de fracassos.

Ou seja, sinto-me pressionado por eles.E lembro de trechos razinzas de minha mãe falando ainda quando fazia faculdade, que meu curso universitário não ia garantir nem as passagens de ônibus.Ela falou com um toz de voz de desprezo e humilhador.

E assim venho vivendo minha vida com longos períodos de indefinição financeira.E isso provoca mal-estar, se não fosse uma pessoa orgulhosa, não provocaria, mas como o sou: então é o verdadeiro inferno.