sábado, 19 de novembro de 2011

O IMPERADOR NA PRIMEIRA CASA




O IMPERADOR NA PRIMEIRA CASA

O Imperador apareceu na primeira casa:
neste ciclo de lua minguante.
E tendo que refletir
sobre um patriarcado impressionante.

Eu não tenho filhos carnais,
mas a Chiara Evelin,
minha sobrinha,
ser amado,
é como se fosse.

Serei eu o pioneiro,
o empreendedor,
mas que terror!
Se não tenho dinheiro.

Serei eu o visionário
mas que temerário
se não tenho vínculos
com nenhum erário.

Breve comentário
do taro discricionário:

[cetro na mão direita do governante foi baseado no falo raio
de Shiva, dando origem ao bastão do Tarô. Originalmente um
tridente, também foi portado por deuses fálicos ocidentais como
Júpiter, Netuno, Hades, Possêidon, Plutão e Lúcifer. Também
associado com Osíris e o Guardião do Santo Graal.]

O imperador de Crowley
em tons vermelhos:
dinamismo,
franco empreendedorismo.

Símbolo alquímico do enxofre ,
energia masculina.

realeza (atributo do Faraó)
Se eu for Akinethon
serei invejado?
Imponente e arrojado?

Senso de realidade.
disposição
para assumir responsabilidades.

Logo eu que sou tão frouxo:
com uma baixa auto-estima,
Tão fraco para fazer esgrimas!!!!

sábado, 12 de novembro de 2011

CRÍTICA À EXPOSIÇÃO "CONEXÕES POÉTICAS"




CRÍTICA À EXPOSIÇAO “CONEXÕES POÉTICAS”
Charles Odevan Xavier

Este ensaio é uma resenha crítica da Exposição “Conexões Poéticas” em cartaz no Centro Cultural Banco do Nordeste, no mês de Novembro de 2011.

A Exposição “Conexões Poéticas” é uma iniciativa do Instituto de Cultura e Arte da UFC.E surgiu durante o seu programa de residência artística. O projeto já esta na sua segunda edição, promove encontros entre artistas convidados e jovens artistas residentes através de workshops, criando um espaço de troca, no qual os trabalhos podem ser pensados de forma processual e colaborativa.

Para escrevermos este ensaio lemos a seguinte bibliografia:


ARCHER, Michael. Arte contemporânea – 2ª edição – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2005.
FRANCASTEL, Pierre. A Realidade Figurativa – 2ª edição – São Paulo: Perspectiva, 1993.
GOMBRICH, Ernst Hans Josef. A História da Arte – 16ª edição – Rio de Janeiro: LTC, 2000
GULLAR, Ferreira. Etapas da Arte Contemporânea – Rio de Janeiro: Revan, 1998.

E neste ensaio iremos tecer comentários sobre as obras “Força Humana” de Leonardo Mouramateus; “Progressão Geométrica” de Tobias Gaede, “Relicário” Lara Vasconcelos e Luciana Vieira e “Primavera” Natália Alves.

FORÇA HUMANA DE LEONARDO MOURAMATEUS

Na obra “Força Humana” o espectador entra numa sala escura, senta-se num sofá (caso queira) o que sugere que a video-arte que iremos ver é longa – ou chata, no caso de espectadores que vi entrando e saindo dentro de poucos segundos.

O que acontece em “Força Humana” de Leonardo Mouramateus? Uma video-arte dividida ao meio em dois planos que se sucedem no tempo revelam tomadas e enquadramentos de um galpão industrial onde operários metalúrgicos manipulam maquinas e soldas quentes. Bem. Basicamente é isso o que acontece na video-arte.

Só que os enquadramentos e angulações capturadas por uma filmadora de vídeo são belos, produzindo assimetrias ou simetrias gráficas no telhado do galpão em contraposição com a dureza amarela dos guindastes que aparecem ou dos tratores.

Os operários filmados não são atores pagos, são reais, o que provoca uma situação de cinema verdade na película filmada.

Pergunta-se: Para que filmar operários e peões consertando máquinas ou operando soldas? Talvez a intenção de Leonardo Mouramateus tenha sido celebrar o homem comum, o homem sem aparente importância e glamour, o peão de fábrica. Tal iniciativa começou a ocorrer só na arte modernista a partir do Impressionismo. E a arte contemporânea - ou pós-moderna como querem alguns críticos – é notória em cantar o banal, o comum, o cotidiano, o sem glamour.

Merece ser vista até o fim.

PROGRESSAO GEOMETRICA DE TOBIAS GAEDE

A obra “Progressão Geométrica” de Tobias Gaede éuma vídeo-instalação em que se questiona a questão do tempo. Num lado vemos um monitor de vídeo exibir clipparts com a agenda diária do artista totalmente cronometrada. Em cima de um pedestal vemos um livro vermelho em espanhol de Gaston Bachelard “Intuicion del instante”. Na parede da frente vemos duas projeções em Data-show do artista lendo o livro de Gaston Bachelard. Só que por alguma razão ( talvez o excesso de luz da sala) a projeção tenha cores esmaecidas e esfumaçadas, talvez questionando a efemeridade do tempo.

Na outra parede vemos uma xerox da agenda cronometrada que aparece no clippart do monitor de vídeo.

Em “Progressão Geométrica” Tobias Gaede quer questionar a temporalidade no cotidiano pós-moderno. Ate que ponto somos criadores de tempo ou reféns do tempo? Parece ser a pergunta de Gaede.

RELICÀRIO DE LARA VASCONCELOS E LUCIANA VIEIRA

Na obra “Relicário” de Lara Vasconcelos e Luciana Vieira vemos uma estrutura de madeira branca no centro de uma sala. Em cima dela há um desses álbuns de foto vermelho. E na estrutura de madeira há um fone de ouvido, que convida o espectador a “ouvir” a obra. Criando uma situação de estranhamento inicial, posto que iremos ouvir e não há nada aparentemente para ver.

Eu tive a intuição de abrir o álbum de fotos, mas outros espectadores talvez pudessem ficar intimidados já que se sabe que em museu não se pode tocar as obras.

O que vemos no álbum, quando aberto, foi uma sucessão de fotos de família, mostrando o cotidiano .As fotos amarelecidas pelo tempo estavam circundadas de pequenos poemas feitos de hidrocor vermelha sobre transparências que cobriam as paginas do álbum.

E ao ouvir o que tinha no fone de ouvido, sempre a intrigante frase se repetindo: “Num filme antigo de meu pai, aparece uma mulher, que podia ser minha mãe, mas não era”.

Vamos ouvindo e a sucessão de fotos e poemas do álbum cria uma pequena confusão cognitiva no espectador, como se produzisse dois percursos narrativos diferentes.

Há beleza nessa obra e ao final da consulta ao álbum de fotos, uma surpresa: na última página vemos um monitor de vídeo dentro da estrutura de madeira que exibe um pequeno filme super 8, onde ocorre uma seqüência rápida e fugaz do que se diz no fone de ouvido.

As artistas podem estar questionando a noção de memória e de como ela pode nos trair. E tal como um baú de recordações, o álbum de fotografias pode ser um relicário de relíquias simbólicas.

PRIMAVERA DE NATALIA ALVES


Na obra “Primavera” de Natália Alves vemos numa sala iluminada e cheia de ruídos, quatros vestidos desses que senhoras idosas vestem em casa pendurados no teto.

Quando o espectador se aproxima dos vestidos pode escutar saindo do “tórax” dos vestidos vozes de senhoras idosas dando depoimentos sobre suas vidas.

Eu gostei da obra e do lugar que a artista resolveu colocar as caixas de som, por que quem estuda medicina indiana sabe que no tórax há o chacra cardíaco das emoções sublimes.

DOIS ARTISTAS QUE FICARAM DE FORA DO MEU COMENTARIO

Poderia falar de dois artistas que ficaram de fora do meu comentário e que estão na exposição. Marina Mapurunga colocou numa sala um teclado onde aparentemente o espectador pode interagir, mas no dia em que fui à exposição o teclado estava com problemas técnicos, então não pude fruir de meu talento como pianista amador.

E na obra de Tiago Fontoura, dois monitores de vídeo exibem, num plano americano, dois bailarinos fazendo gestualidades. Foi a obra mais hermética para mim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Exposição “Conexões Poéticas” vemos que os artistas envolvidos estão refletindo de uma maneira ou outra sobre a questão do tempo na sociedade contemporânea. Em que medida as tecnologias permite mais tempo, mais ócio ou mais trabalho e tortura.

Pesquisador.

domingo, 6 de novembro de 2011

RESPOSTA AO MACARRÃO:A CRÍTICA DO POLITICISMO SEGUNDO A PERSPECTIVA ANARCO-INSURRECIONAL PRIMITIVISTA




RESPOSTA AO MACARRÃO: A CRITICA DO POLITICISMO SEGUNDO A PERSPECTIVA ANARCO-INSURRECIONAL PRIMITIVISTA
Charles Odevan Xavier

“(...)la única respuesta contraria al trabajo es la de destruirlo, procurando una propia proyectualidad, un propio futuro, una propia identidad social del todo nueva y contrapuesta a los intentos de nadificación puestos em marcha por el capitalismo postindustrial.”

Alfredo Maria Bonanno, anarco-insurreicionista italiano.

“A medida para avaliar a importância de uma revolta generalizada não é o conflito armado, mas ao contrário, é a extensão da paralisia da economia, da normalidade. Se os estudantes continuarem a estudar, se os trabalhadores e funcionários de escritório continuarem a trabalhar, o desempregado unicamente se esforçando em arranjar emprego, então a mudança não será possível.”
Do ensaio “Anarquismo Insurrecionário: Organizando para o ataque!” de autoria anónima.


Este ensaio pretende ser uma resposta sóbria a “Carta Aberta de Desligamento da ORL – Organização da Resistência Libertaria” do ativista anarquista Macarrão.

Para tanto consultamos diversas fontes bibliográficas.

Entre elas o “Dicionário de Política” de Norberto, BOBBIO, Nicola, MATTEUCCI e Gianfranco, PASQUINO - Traduçao: Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini – 11ª edição – Brasília : Editora Universidade de Brasília, 1998.

Consultamos documentos anarco-plataformistas como “Alma e o Corpo: O Bakuninismo e a organização anarquista”. Analisamos a Carta Aberta do militante anarquista Macarrão e os comentários publicados no CMI – Centro de Midia Independente (www.midiaindependente.org)

E lemos tambem a resposta da ORL “A Revolução é imensa mas os homens são infinitamente pequenos”.


Consultamos as obras do anarquista insurrecional italiano, Alfredo Maria Bonanno: “O prazer armado”, “A tensão anarquista”, “Destruyamos el trabajo” e “Movimiento Ficticio e Movimiento Real”.

Lemos o ensaio “Anarquia verde vs. Anarquismo Clássico” publicado pelo coletivo “Green Anarchy”.E o ensaio: “Anarquismo Insurrecionário: Organizando para o ataque!” de autoria anônima.

Também lemos o livro de Anselm Jappe: “Guy Debord” - Traduçao: Iraci C. Polet e Carla Silva Pereira – Lisboa, Antigona, 2008.

Não podemos deixar de mencionar que lemos o curto, mas esclarecedor “Anarco-primitivismo” do anarquista americano John Zerzan publicado pela BPI.

E ouvimos a esclarecedora entrevista de Macarrao para Radio online “Cordel Libertário”

O QUE É POLITICA? O QUE É LUTA?


“Política.
I.. O SIGNIFICADO CLÁSSICO E MODERNO DE POLÍTICA. — Derivado do adjetivo originado de pólis (politikós), que significa tudo o que se refere à cidade e, conseqüentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social, o termo Política se expandiu graças à influência da grande obra de Aristóteles, intitulada Política, que deve ser considerada como o primeiro tratado sobre a natureza, funções e divisão do Estado, e sobre as várias formas de Governo, com a significação mais comum de arte ou ciência do Governo, isto é, de reflexão, não importa se com intenções meramente descritivas ou também normativas, dois aspectos dificilmente discrimináveis, sobre as coisas da cidade. Ocorreu assim desde a origem uma transposição de significado, do conjunto das coisas qualificadas de um certo modo pelo adjetivo "político", para a forma de saber mais ou menos organizado sobre esse mesmo conjunto de coisas: uma transposição não diversa daquela que deu origem a termos como física, estética, ética e, por último, •cibernética. O termo Política foi usado durante séculos para designar principalmente obras dedicadas ao estudo daquela esfera de atividades humanas que se refere de algum modo às coisas do Estado: Política methodice digesta, só para apresentar um exemplo célebre, é o título da obra com que Johannes Althusius (1603) expôs uma das teorias da consociatio publica (o Estado no sentido moderno da palavra), abrangente em seu seio várias formas de consociationes menores. Na época moderna, o termo perdeu seu significado original, substituído pouco a pouco por outras expressões como "ciência do Estado", "doutrina do Estado", "ciência política", "filosofia política", etc, passando a ser comumente usado para indicar a atividade ou conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de referência a pólis, ou seja, o Estado.”
Dicionário de Política – Noberto Bobbio.

“Los anarquistas son enemigos declarados del Estado y de todas las realizaciones institucionales concretas de las que este se dota para controlar y reprimir. Esta declaración de principio, aun con su carácter abstracto, es uno de las características esenciales del anarquismo y nuca ha sido puesta en duda.”
Alfredo Maria Bonanno

Este ensaio é bem temerário porque lida- ou pode lidar – com suscetibilidades e melindres involuntariamente e esta não foi minha intenção, caso ocorra, peço desculpas a todos os possiveis envolvidos.

Mas definitivamente a Carta de Desligamento da ORL do militante anarquista Macarrão merece uma resposta ou serviu como mote de resposta.

Particularmente não tenho nada contra o militante Macarrão, temos relações afetuosas, pelo menos ate agora eu não me excluiu do seu orkut.

Porem, não posso ficar calado aos comentários que Macarrão fez em relação ao que ele chama de “ correntes supostas que não foram citadas porque o objetivo era citar aqueles que entendem que o anarquismo e luta e não quem faz ocupaçao de casa, anda de bicicleta, exibe video e tem uma horta”

O que esta pressuposto aqui no discurso de Macarrao quando na enunciação entende-se que ocupaçao urbana, bicicletada, video-debate e horta orgânica não são lutas? Esta pressuposto uma noção de anarquismo que pauta a UNIPA – União Popular Anarquista e o anarco-plataformismo de organizações russas como “Dielo Truda”.

Macarrão entende essas iniciativas, ou essas correntes - das quais os companheiros anarco-punks do Squatt Toren podem ser a referência - como que infiltradas de “doutrina liberal na luta dos trabalhadores, mal que o anarquismo sofreu, mas que hoje tem a obrigação de superar e caminhar rumo ao horizonte revolucionário para a sociedade sem classes”.

Realmente ele não citou o nome do Squatt Toren, mas como na sinopse da carta ele avisa que irá fazer um balanço do anarquismo cearense recente; para bom entendendor quem acompanha a cena anarquista ou libertária cearense, sabe que o Squatt Toren não se reinvindica anarco-primitivista na sua totalidade, mas é uma comunidade de pessoas e militantes e sujeitos bastante sensível aos textos e obras de autores que o meio anarquista internacional rotulou de anarco-primitivista.

Na Carta, Macarrão não cita o Toren mas cita os anarco-punks em categorizaçoes nada fraternas e faz um balanço da experiência do Espaço Cultural Comuna Libertária que na sua avaliação não fazia muito coisa alem de GIG's.

Macarrão pensa que a Comuna Libertária deveria “organizar a classe trabalhadora contra o patronato almejando o acúmulo de forças para o desenlace revolucionário”, quando se resumia a organizaçao de Seminários, Debates e promoção de GIG's.

Eu tambem ouvi uma entrevista de Macarrão há algum tempo atrás na Radio online “Cordel Libertário” e lá ele faz um balanço interessante da ORL, revelando os momentos mais quentes da organização, como por exemplo, a problemática ocupação do Campus do PICI da UFC com os moradores da favela do Planalto Pici.

Macarrão em sua carta faz um balanço de momentos como o da Frente Popular Ecológica de Fortaleza e Bloco Verde que tentaram impedir a oligarquia dos Jeressaitis de depredarem o mangue do Cocó com a Torre do Iguatemi em 2007.

Esta passagem do anarquismo cearense eu estava acompanhando de muito longe, pois estava com uma serie de problemas pessoais e de saúde.

E também porque a partir de 2006 eu me juntei aos anarco-punks como colaborador da Casa do Confronto Anarco-punk doando revistas, livros e ministrando oficinas de redação para os punks. Entao eu perdi o contato com ex-militantes anarquistas da Comuna Libertaria como JP, Mateus Magao e Vanessa Luana.

Macarrão fala dos meses seguintes a 2007 onde houve ocupações radicalizadas por parte dos estudantes da UFC no REUNI, em sua avaliaçao apenas derrotada politicamente por falta de organização de base.

O ex-ativista da ORL fala em “anarquismo social” que reconhece eu seu interior correntes que nada tem a ver com a “luta de classes” ou que inclue grupos que priorizam o estilo de vida pequeno-burgues.E chama pejorativamente esse tipo de anarquismo de ecletismo.

O ecletismo se traduziria por coisas contraditorias como reinvindicar a primeira internacional e a revolução espanhola sem fazer o devido balanço critico, nas palavras dele.

Macarrão critica a ruptura do pessoal da ORL com o COPOACE – Comitê pro Organização Anarquista no Ceara. Implica com o paradigma da FARJ – Federaçao Anarquista do Rio de Janeiro.

Depois Macarrão fala que é necessário “formação politica para a construção do poder popular”.

Discute qual o papel do anarquismo para a luta de classes.

Quando Macarrão diz que o “proletariado no Brasil se encontra orfão de organismos que possam agregar e articular nacionalmente as lutas” e quando o mesmo lamenta os rumos reformistas da CONLUTAS, ele propõe como panacéia: “cabe hoje iniciar a organização de oposições sindicais, estudantis e populares com o objetivo de criar o duplo poder, necessario para qualquer desenlace revolucionário”. Macarrão fala na necessidade de se criar um “partido”, sim! É esse o termo utilizado: “partido”.E termos maoistas-trostkistas autoritarios como: “massas”.

DO POLITICISMO AO “ORGULHO OPERÀRIO”

“Consideramos como movimiento anarquista ficticio el conjunto de los compañeros que administran una posición de poder dentro del movimiento, que no hacen un preciso trabajo anarquista contribuyendo al crecimiento de la conciencia revolucionaria en las masas, sino que se limitan a presidir las reuniones y congresos, tratando de dirigir a los compañeros más jóvenes o menos preparados hacia lo que ellos consideran los principios indiscutibles del anarquismo. Quedan los otros compañeros que por debilidad o por aquiescencia acaban por adecuarse a las decisiones que son tomadas siempre por las mismas personas. Esos, aunque comprometidos en las luchas concretas desnaturalizan el significado mismo de la necesidad de la delegación y no se ocupan de prepararse de modo tal que válidamente se contrapongan a la «tiranía» del compañero más competente o de más autoridad.”
Alfredo Maria Bonanno

O que há por trás de toda a argumentação de Macarrão? Há o problema epistemológico e ideológico do chamado “orgulho operario”.Enquanto autores anarquistas, como Bob Black, Alfredo Maria Bonanno, e, nao-anarquistas, como Guy Debord, Raoul Vaneigem, Anselm Jappe e Robert Kurz falam em “abolição do trabalho”, o Macarrão, a UNIPA querem “mais trabalho”.

A perspectiva da luta de classes ou luta classicista ou ainda o que chamo de luta politicista contra uma suposta luta “culturalista” (sim, pois foi esse o termo que Macarrao usou na entrevista da Radio Cordel Libertario) no meu parecer é um ponto de vista limitado, pois em um planeta Terra vitimado pela lógica cega da economia de mercado e que por isso tem um colapso de sua biosfera, todos são vitimas: o trabalhador (muito citado no discurso de Macarrao), a maioria desempregada (esquecido por Macarrao) e os patrões ou burgueses.Todos vitimas do colapso da biosfera irredutivelmente.Ou seja a humanidade toda no mesmo barco rumo ao naufrágio.

Pra que lutar por uma inclusão no mundo do trabalho, quando o trabalho morto das máquinas eletrônicas dispensa trabalhadores? Para que tanto insistencia em não deter a crise irrecuperável do capital? Por que não deixar o capital – a acumulação de bens e a hierarquização do trabalho – degolar-se a si proprio? Por que tentar impedir o inevitavel?

Quem precisa de “orgulho operario”, de orgulho laboral, de orgulho de fabrica? O burguês.Pois o que sustenta o capital, a sociedade mercantil, o dinheiro, o valor, a hierarquia e, por último, o Estado: é o Trabalho..É o trabalhador que sustenta todo esse andaime.

E o que propõe Macarrão e a UNIPA ou o anarquismo classico? Manter o andaime.Manter a maquina funcionando.Nós anarco-insurrecionistas primitivistas propomos: emperrar a maquina, derrubar o andaime, para que o edificio rigido do Capital e do Capitalismo desmorone.

Manter o andaime do capital e da maquina do capitalismo funcionando para que tenha migalhas para os trabalhadores é incorrer em erro, já que a manutençao desse “tripalium” tem um custo ambiental como o colapso total da biosfera que já começou vide aquecimento global, desertificaçoes regionais, entre outros cataclimas ecologicos.

O PROBLEMA DO PARADIGMA DA UNIPA, O BAKUNINISMO E DO ANARCO-PLATAFORMISMO

“(...)Pero este movimiento anarquista real no debe asumir ninguna forma de prevalencia sobre las organizaciones del movimiento de los trabajadores y no puede ser administradas por especialistas iluminados capaces de mantenerlas en vida en momentos de cansancio. El punto esencial a no olvidar es que estos famosos momentos de reflujo lo son para el movimiento ficticio de los trabajadores, no para el movimiento real, sometido en todo instante a la presión incansable de la explotación y el genocidio.”
Alfredo Maria Bonanno

“ El proyecto revolucionario anarquista parte del contexto específico de la realidad de las luchas. No es un producto de la minoría, no es elaborado por ésta y exportado al movimiento de los trabajadores, que lo adquiere en bloque o a plazos. El proyecto revolucionario no es ni siquiera una realización acabada en todas sus partes. Los anarquistas no deben imponer su conciencia de minoría revolucionaria a la clase trabajadora. Actuar en este sentido significa, involuntariamente, perpetuar la violencia leninista. Al contrario, participando en el proceso de autoorganización de la masa, trabajando dentro, no como teóricos políticos o especialistas militares, sino como masa, se puede evitar el obstáculo insuperable de la minoría separada que intenta «viajar» hacia la totalidad de la masa, pero no sabe decidirse sobre la metodología a emplear.”
Alfredo Maria Bonanno

“Massa. s.f. Mistura de farinha de trigo ou outra qualquer, com um liquido, de modo que forme pasta; conjunto de partes que foram um todo; substancia mole, pastosa ou pulverizada(...)materia que constitui um corpo, corpo informe(...)pl. Aglomeraçao de gente, o povo”
Dicionario Brasileiro Globo

“A organizaçao das massas e pre-condiçao para a politica revolucionaria”
A Alma e o Corpo, UNIPA

Cada um tem o paradigma, o esquema de referencia que bem entender.Nao sou dono da verdade.Mas identifiquei uma serie de problemas no documento “A Alma e o Corpo” da UNIPA – Uniao Popular Anarquista.E esse topico antes de ser uma tentativa arrogante de apontar erros, serve ou serviria mais como um momento de reflexao para contribuir com o debate de ideias.

No documento os signatarios dividem a organização de massas em seções centrais e seções corporativas.Falando da necessidade da existencia de “nucleos duros ou nucleos geradores” dentro dessas organizaçoes de massa.Qualquer semelhança com vanguarda revolucionaria não é mera coincidencia.

E o termo 'vanguarda' aparece no documento quando afirma: “As seçoes centrais reuniam exatamente os militantes da vanguarda do proletariado, aqueles que já tinha desenvolvido uma solida consciencia socialista”

E o preocupante trecho: “Para organizar as amplas massas é preciso, no entanto chegar ate elas e convence-las de se organizarem”

Deve-se questionar utilizando passagens da carta de Macarrao quando se refere a movimentaçao em torno no chamado “Comite Popular da Copa” - articulaçao dos moradores que lutam em torno dos impactos socio-ambientais das obras da COPA DO MUNDO em Fortaleza.

Sera que cabe a uma minoria de eleitos dirigir os moradores do Castelao ou deixar que os proprios se organizem por si mesmos? Sera que cada morador de onde passara o VLV - Veiculo Leve sobre Trilhos - não tem uma noçao na propria carne de que perderá sua casa e poderá ir morar longe dos seus amigos e local de trabalho? Sera que o povo é sempre burro e precisa de meio duzia de especialistas da revoluçao?

O paradigma do “Dielo Truda” - Grupo russo que serve de inspiraçao a UNIPA - tende a uma “bolchevizaçao” do anarquismo, inibindo a criatividade dos sujeitos envolvidos e mergulhando todos numa rigidez programatica intoleravel.

A PROPOSTA INSURRECIONAL E PRIMITIVISTA

“Es necesario partir del nivel real de las luchas, del nivel concreto y material del combate de clase, construyendo pequeños organismos de base, autónomos, capaces de colocarse en el punto de coincidencia entre la visión total de la liberación y la visión estratégica parcial que la colaboración revolucionaria hace indispensable. No se trata pues de propaganda, de «hacerse conocer» por las masas, no se trata de acceder a los grandes medios de comunicación, no se trata de hablar en televisión a millones de espectadores; se trata de realizar en cada hecho de la lucha de masa la conciencia revolucionaria de la minoría, transformando en hecho-concreto la conciencia que en convento minoritario, quedaba en simple abstracción; haciendo que la necesidad del comunismo advertida por las masas se realice, poco a poco, en una concreción cotidiana, en una organización material de la vida.”
Alfredo Maria Bonanno

“Si, por ejemplo, nos limitásemos a denunciar las condiciones de los encarcelados, seríamos sin duda útiles a los compañeros a los compañeros que sufren la represión; pero limitándonos a esto, condenaríamos nuestra intervención a quedar en manos de una minoría externa que se acerca a la realidad y la divisa, se bate por ella y, - al límite, hace algo por cambiarla a mejor. Pero este «cambiar a mejor» es útil también para el poder que, antes o después, debe también decidirse a adoptar sistemas más refinados y socialdemócratas de represión; sistemas igualmente, si no más, eficaces.”
Alfredo Maria Bonanno

“O que significa ser anarquista? Porquê? Porque não é uma definição que possa ser feita para sempre, posta num cofre e considerada um patrimônio que possa ser extraído pouco a pouco. Ser anarquista não significa que se alcançou uma certeza, ou que se afirmou de uma vez por todas “ok, de agora em diante, eu possuo a verdade e como tal, pelo menos do ponto de vista da idéia, sou uma pessoa superior”.
Alfredo Maria Bonanno

Existe no dizer de John Zerzan uma profunda crise em todos os niveis: individual, social, ambiental. O câncer do capitalismo tecnológico esta se expandindo com um impacto devastador.

John Zerzan faz um diagnóstico: “. Liberalismo, esquerdismo, pacifismo são faces de uma falida pseudo-oposição a ordem dominante. A única oposição radical é a anarquia.”
“Civilização, que é baseada na divisão de trabalho e domesticação, também deve ser abolida. Sua lógica desdobradora tem nos levado para a atual condição de vazio, destruição e patologia.”

John Zerzan propõe: “Nosso objetivo é uma comunidade não-hierárquica e face a face. Todo obstáculo para tal deve ser removido. Um grande desmantelamento é necessário para que a natureza e cada individuo seja honrado. A descentralização completa é o objetivo.

Tecnologia e capital a uma monocultura massificada que escraviza toda vida. Produção em massa, fabrica, especialização, pensamento separatista é parte do problema, e não da solução.

Livre associação, autonomia, transparência, espontaneidade, comunhão com a natureza, diversão, criatividade são requisitos para uma existência saudável e livre. Produtividade, hierarquia, coerção, trabalho, consciência de tempo não.

Voto, programas de reciclagem, reformismo, e protestos não têm conseguido realmente nada. Tem que haver um rompimento qualitativo com a Mega-maquina.”

CONSIDERAÇOES FINAIS

O proposito deste ensaio não foi alfinetar ninguem, mas contribuir para o debate sobre as inumeras possibilidades do anarquismo transnacional e cearense, sem redundar em dogmatismos estanques ou cristalizados.

Pesquisador e colaborador do Squatt Toren.

sábado, 5 de novembro de 2011

O CUBISMO NO TARÔ DE CROWLEY






O CUBISMO NO TARO DE CROWLEY

O proposito deste ensaio é esmiuçar as relações entre a plasticidade cubista e o Tarô de Aleister Crowley – conhecido como Tarô de Thoth.

Para tanto nos baseamos principalmente na teoria de artes-plásticas contida no livro de Ferreira Gular: “Etapas da arte contemporânea: Do cubismo a arte neoconcreta” - 3ª edição – Rio de janeiro: Revan, 1999..

Também consultamos Carol Strickland e E. H. Gombrich.

Na parte do ocultismo consultamos a excelente obra de Hajo Banzhaf e Brigite Theler “Tarô de Crowley – Palavras chaves” - São Paulo: Madras, 2006.

Também achamos imprescindível informar que lemos Robert Wang: “Taro cabalístico: um manual
de filosofia mistica” - São Paulo: Pensamento, 1994.

Quanto as implicações psicológicas lemos de Sallie Nichols: “Jung e o Taro: Uma jornada arquetípica” - 11ª edição – São Paulo: Cultrix, 2005.

QUEM FOI ALEISTER CROWLEY?

“Ao longo das últimas décadas do século passado, em grande parte dos círculos
ocultistas brasileiros, a simples menção do mote Aleister Crowley (1875-1947)1 parecia
ter a estranha propriedade de imediatamente cerrar todas as portas e janelas. Bastava um
estudante citá-lo, mesmo despreocupadamente, e logo uma verdadeira transformação
era observada nas quase sempre benevolentes fisionomias místicas, quando a
comiseração e a cortesia dos iniciados imediatamente cediam lugar à sisudez e à dura
repreensão. Crowley, indiscutivelmente, era território proibido, um verdadeiro tema
interditado. Tamanha era a hostilidade relacionada a sua pessoa que qualquer
interessado em estudá-lo logo se via legado ao completo abandono, não sendo,
inclusive, raros os exemplos de estudantes discriminados e marginalizados apenas por
optar conhecer seus textos.”
Carlos Raposo

Segundo Carlos Raposo, Aleister Crowley foi Mago, poeta e erudito, visionário e bufão, alpinista excepcional e enxadrista notável, autodenominando-se Grande Besta do Apocalipse e Salvador da Humanidade, foi o fundador da Religião Thelêmica e é hoje entusiasticamente aclamado por uma gama cada vez maior de admiradores como ninguém menos que o Profeta da Nova Era.

Sempre profundamente envolvido em questões religiosas e místicas,5 já por volta de 1896 Crowley iniciava a leitura de livros sobre magia e misticismo. Especialmente, é o maravilhoso texto de Nuvem sobre o Santuário, do místico Karl von Eckhartshausen (1752-1803), material que lhe fora recomendado pelo famoso erudito Arthur Edward Waite (1857-1943), que fez com que Crowley decidisse empenhar sua vida ao estudo do Ocultismo e da Magia, sempre buscando a Grande Fraternidade Invisível.

Logo em seguida, por intermédio de dois jovens amigos, Crowley é apresentado a Samuel Liddell "MacGregor" Mathers (1854-1918), um dos lideres da Ordem Hermética da Aurora Dourada (The Hermetic Order of the Golden Dawn) a G.D., uma das mais influentes Ordens iniciáticas do fim do século XIX. A G.D., fundada em 1887 pelo próprio Mathers, junto dos maçons William Wynn Westcott (1848-1925) e
William Robert Woodman (1828-1891), proporcionaria a Crowley sua primeira iniciação e o contato direto com os mistérios mágicos. Foi por intermédio das instruções da G.D. que Crowley tomou conhecimento, por exemplo, da seminal importância do Tarô tanto como instrumento de perpetuação da tradição ocultista, quanto como ferramenta mágica e oracular.

Além de frequentar vários círculos de ocultistas europeus, Crowley também viajou pelas Américas do Norte e Central, África e Oriente Médio. Dotado de uma fantástica capacidade mimética, assimilava a cultura local, passando-se por nativo das inóspitas regiões visitadas. No Oriente Médio, encontrou-se e se instruiu com Mestres de Yoga e Tantra. Justamente em uma dessas viagens foi que Crowley recebeu o mistério que o
acompanhou até seu último momento: A Lei de Thelema. Isso ocorreu em 1904, quando, com sua esposa Rose Kelly (1874-1932), viajou pelo Egito. Assim, conforme contam os thelemitas, quando de sua estada no Cairo, após uma série de rituais e invocações ao Deus Thoth, um ser, identificando-se como Aiwass,transmitiu a Crowley, nos dias 8, 9 e 10 de abril, o Liber Al vel Legis, o Litro da Lei. Nascia, assim. a religião thelêmica.

Mesmo quando criança, Crowley estava envolvido pela temática religiosa. Na ocasião, seus pais,
fanáticos membros de uma radical seita protestante da época vitoriana. obrigavam-no ao intenso e
sistemático estudo da Bíblia cristã.

Por volta de 1910, já afastado da G^D^, Crowley foi admitido em uma obscura organização pseudomaçônica chamada Ordem dos Templários Orientais (também conhecida pelo acróstico O.T.O., ou pela denominação latina Ordo Templi Orientis). Essa organização, fundada em 1906 pelo ocultista alemão Theodor Reuss (1855-1923),7 prometia nada menos do que possuir a verdadeira chave de toda a magia, de todos os
segredos herméticos e maçônicos, de todas as religiões e sistemas iniciáticos da humanidade. A chave de todos os mistérios, como entendida pelo corpo de iniciados da O.T.O, está presente em uma certa instrução de magia sexual. pertencente aos graus superiores dessa Ordem. O envolvimento de Crowley com a Ordo Templi Orientis foi intenso em todos os sentidos, abarcando todos os aspectos de sua vida, sejam eles profanos ou iniciáticos, públicos ou privados. Logo após ser admitido, foi nomeado rei sumo e santíssimo da
O.T.O. para a Inglaterra. Como líder regional da Ordem, reformulou por completo seus rituais e instruções, elaborou uma soberba Missa Gnóstica, montou a Abadia de Thelema, onde pregava o amor livre e a lei do Faze o que queres, escreveu compulsivamente e financiou a publicação dos próprios livros, arrebanhou discípulos e se disse expulso tanto da Itália fascista quanto da França. Levando uma desregrada vida
de boêmio, assíduo frequentador ora dos cafés parisienses. ora dos bares londrinos, excêntrico, jactancioso e falastrão, inspirou diversos autores, os quais tomaram livremente sua alucinada personalidade como molde à construção de vários vilões. Foi no ambiente parisiense que Crowley começou a ter contato com as vanguardas artísticas europeias como o fauvismo e o cubismo.

Tanto fez Crowley, sempre envolvido em escândalos sexuais, uso de drogas, operações mágicas das mais exóticas e Ordens ocultistas, que os periódicos ingleses não tardaram a citá-lo em gritantes manchetes como "rei da depravação", "pior homem do mundo" ou "um homem que gostaríamos de enforcar".

Dentre os escritores que conheceram Crowley citamos o famoso autor de O Fio da Navalha, Somerset
Maugham (1874-1965). Inspirado em Crowley. Maugham criou o personagem Oliver Haddo, vilão de seu
romance The Magician.

Todavia, dentre tantos a lhe cruzarem o caminho, um encontro em especial marcaria parte significativa da obra de Aleister Crowley. Como afirmado anteriormente, assíduo frequentador dos bares londrinos, foi exatamente graças às amizades do Royal Coffee que em 1937 pôde conhecer provavelmente a mais importante entre todos os seus colaboradores: Frieda Harris (1877-1962), ou, como os thelemitas passaram a
chamá-la, Lady Harris. Não há muito registrado sobre a amizade entre ambos. Crowley foi apresentado a
Lady Harris por uma amiga em comum, Greta Valentine (1907-1998), que também era adepta da intensa vida boêmia londrina e frequentadora do Royal Coffee. Greta, além de mística e artista, era membro da fina sociedade inglesa, compartilhando com Lady Harris tanto as altas rodas sociais de Londres quanto, principalmente, o estudo da Antroposofia. Por sua vez, além de estudante de Antroposofia, Lady Harris, também era artista e pintora surrealista, fazia parte da co-maçonaria12 inglesa e da Sociedade Teosófica. Bem acostumada aos temas místicos, parte do trabalho de Lady Harris era dedicado a pinturas relacionadas à simbologia esotérica. Dentro desse contexto, hoje são célebres os trabalhos por ela produzidos a respeito dos painéis dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom. Da amizade entre Crowley e Lady Harris, nasceu o Tarô de Thoth.

A GENESE DO TARO DE THOTH

Normalmente, é creditada a Crowley a inteira idealização do Tarô de Thoth. Porém, na realidade, inicialmente ele não pretendia criar novas cartas, mas tão-somente fazer uma releitura, corrigindo o Tarô, a partir das tradicionais imagens dos Arcanos, mantendo o padrão já conhecido, embora alterando algumas atribuições cabalísticas e astrológicas destes. Para isso, o plano era simplesmente redesenhar um outro baralho, na ocasião considerado por ele o melhor trabalho disponível,15 adequando-o às instruções
já escritas por Crowley. O projeto inicial deveria levar aproximadamente seis meses para ser concluído. No entanto, depois de começado o desenho das cartas, Lady Harris sugeriu que ele procedesse com a elaboração de um Tarô inteiramente novo. A ideia, bem mais ambiciosa, era não apenas evitar a mera repetição de um trabalho preexistente, mas criar todo um pacote original de cartas, as quais, a seu turno, ilustrariam um novo livro a ser escrito por Crowley. A ideia foi inicialmente rejeitada, contudo, Lady Harris insistiu e, finalmente, fez uma proposta a qual não pôde ser recusada por Crowley, que àquela altura passava por dificuldades financeiras: ele passaria a ser seu instrutor de magia, enquanto ela pagaria uma quantia semanal pelas
aulas. Concomitantemente, a ideia era transformar as instruções de Crowley nas novas cartas a serem concebidas.

Como discípula de Crowley, Lady Harris recebeu dele o mote místico de Soror Tzaba. Embora não fosse, propriamente uma thelemita religiosa, Lady Harris se mostrou uma estudante dedicada e franca, assimilando rapidamente o conhecimento mágico de Aleister Crowley. Do mesmo modo. apesar de confessadamente ignorante sobre os temas relacionados ao Tarô. a partir das orientações de Crowley e enquanto ele delineava seu novo livro, Lady Harris, aos poucos, conseguiu elaborar aquele que viria a ser chamado de Tarô de Thoth. A ocupação com o novo Tarô foi simplesmente obsessiva. De acordo com o relato do próprio Crowley, Lady Harris empregou por completo sua genialidade na confecção das cartas, entregando-se de corpo e alma ao projeto. Ela, por sua vez, ao longo do processo de criação, dizia-se misticamente tomada e impelida por seu Sagrado Anjo Guardião, no sentido de dar a cada carta uma feição perfeitamente acurada, refletindo, por conseguinte, a espiritualidade e a magia do Mestre que tanto lhe inspirava quanto
lhe instruía. Porém, o trabalho com as Cartas não apenas espelhava o íntimo da artista. Entre as histórias contadas acerca da elaboração do Tarô de Crowley. diz-se também que. na medida em que Lady Frieda Harris ia produzindo um Arcano específico, de tal ordem era o envolvimento dela com a ideia a ser capturada em tela, que sua vida também passava a refletir as questões nucleares daquele Arcano.

Tanto Crowley quanto Lady Harris eram dados ao perfeccionismo. A partir das descrições e orientações dadas por ele, algumas cartas eram, por diversas vezes, inteiramente refeitas,18 até que o resultado final satisfizesse a ambos. Na medida em que as Lâminas ficavam finalmente prontas, Crowley deixava claro o seu entusiasmo e surpresa com o resultado, declarando-as imensamente belas, muito além do que qualquer coisa por ele jamais imaginada. Tão árduo foi o trabalho de concepção do novo Tarô que o projeto inicialmente estimado em aproximadamente seis meses levou cerca de cinco anos para ficar pronto.

Ao longo do desenvolvimento do projeto do Tarô de Thoth, Crowley e Lady Frieda Harris enfrentaram uma série de dificuldades, ora devido à debilitada saúde do sexagenário mago, ora consequência de certa hostilidade à parceria estabelecida entre eles. Quanto a essa última questão, especula-se que grande parte da hostilidade advinha da má fama creditada a Aleister Crowley. Já Lady Harris, frequentadora dos círculos da
nobreza londrina, podia ter sua reputação manchada, graças à lealdade dispensada por ela a Crowley. Para se ter uma tênue ideia das represálias direcionadas à amizade deles, basta mencionar o abrupto cancelamento da exposição de pinturas de Lady Harris, na principal galeria de artes de Oxford, em 1941. Para a exposição, estavam programadas tanto a exibição de pinturas de Lady Harris, bem como a apresentação de algumas cartas já finalizadas do Tarô. Rumores indicam que a causa da suspensão do evento teriam sido os créditos ao nome do mago, bem como a possível presença de Aleister Crowley no local da exibição. Apesar de toda a dificuldade, mais tarde Lady Harris logrou êxito em exibir o seu trabalho, embora houvesse sido necessário omitir o nome de Crowley de qualquer material publicitário relacionado ao evento. De todo modo, o trabalho com as Cartas foi concluído por volta de 1943. Já o texto do The Book of Thoth ficou pronto em 1944, quando uma tiragem limitada a 200 cópias foi impressa. Em que se considere toda a influência de Crowley sobre Lady Harris, ele mesmo reconheceu ter sido dela a energia e o ímpeto que deram forma final ao projeto. Por tudo, entre os thelemitas, hoje Aleister Crowley é considerado mentor e pai do Tarô de Thoth, enquanto Lady Harris é acertadamente apresentada como sua mãe. O trabalho final não seria possível sem a feliz parceria.
Assim, graças ao reconhecimento do trabalho de Lady Harris, o Tarô de Thoth, comumente chamado de Tarô de Crowley, também é citado mais que justamente como Tarô Crowley-Harris.

Assim foi edificado o Livro de Thoth, ou, como Crowley gostava de frisar, os Atus de Tahuti, ou simplesmente a Morada de Thoth. Dentro do escopo da obra de Aleister Crowley, o conjunto que compreende o The Book of Thoth junto com as cartas de seu Tarô tem destacada relevância. Tamanha é a importância desse trabalho, que seus discípulos frequentemente se referem ao Tarô como a própria imagem do Novo Éon.

Alguns autores, indo além, veem no Tarô de Thoth algo tão excepcional, que consideram-na a única obra de Crowley. Para esses últimos, o mago há muito teria sido esquecido, caso não tivesse sido produzido o Tarô de Thoth.

O TARO DE CROWLEY E FONTE DE AUTO-CONHECIMENTO?

Por vezes, Thoth é o deus relacionado ao conhecimento e à sabedoria. Sob esse conceito, encontramos o Tarô de Crowley como um conjunto de chaves cuja utilização levará ao estudante um mundo inteiramente novo de símbolos, de significados e, finalmente, de conhecimento místico e sabedoria iniciática. Se, em um primeiro
momento, o conjunto de elementos que compõe o Tarô de Thoth pode parecer estranho, uma vez lhe dado a devida chance de se mostrar, logo ele se desvelará prazeroso e recompensador. Em outras vezes, Thoth aparece como o divino intermediário, aquele a reunir o homem com os planos superiores da existência. Sob esse outro conceito, o Tarô de Crowley aparece como ferramenta ímpar, tanto como oráculo quanto como
instrumento de autoconhecimento.

O QUE E O TARO?

O Tarô é um oráculo de cartas, conhecido em sua configuração atual desde o século XVI. Ele consiste em 78 cartas que se dividem em dois grupos principais. Os Arcanos Maiores22 compõem-se de 22 cartas numeradas sequencialmente, nas quais são representados motivos individuais, como, por exemplo, um louco, um mago, o sol e a lua, assim como também a morte e o diabo. As 56 cartas restantes, que são chamadas de
Arcanos Menores, subdividem-se em quatro séries ou naipes, que possuem respectivamente um símbolo em comum (Paus, Espadas, Discos ou Copas).

Existem muitas divergências sobre a origem desse oráculo e de como ele teria chegado até a Europa. As pistas mais antigas perdem-se no século XIV. Supõe-se que naquela época os Arcanos Menores tenham chegado ao Ocidente vindos do mundo islâmico. Por outro lado, a origem das cartas dos Arcanos Maiores, que por sua vez são bem mais significativas, é incerta. Elas aparecem somente por volta do fim do século
XVI, e não se sabe se a ligação com as cartas dos Arcanos Menores surgiu nessa época ou se as 78 cartas estiveram desde o início juntas.

Com os Arcanos Maiores, muitas pessoas acreditam ter em suas mãos nada menos do que o Livro da Sabedoria da Casta de Sacerdotes do Antigo Egito, que durante vários séculos floresceu secretamente até chegar ao conhecimento público, por volta de 400 anos atrás. Outras pessoas partem do princípio, sem dúvida bem mais plausível, de que essas cartas tenham surgido na mesma época em que se tornaram conhecidas. Tão misterioso quanto a origem dos Arcanos Maiores é o seu estranho "desaparecimento" posteriormente. Enquanto os Arcanos Menores são conhecidos por quase qualquer pessoa em razão de nossos baralhos atuais terem se originado destes, dos Arcanos Maiores somente O LOUCO "sobreviveu". Ele transformou-se no Coringa. As outras 21 cartas restantes desapareceram dos baralhos difundidos nos dias atuais, porém, os quatro naipes dos Arcanos Menores e sua estrutura, por sua vez, permaneceram até hoje. Os símbolos Paus, Espadas, Taças e Ouros, que são até hoje difundidos em jogos de cartas em países de língua românica, tornaram-se na Alemanha Paus, Espadas, Copas, Ouros, assim como Castanhas, Folhas, Corações e Sinos.

COMO SE UTILIZA O TARO?

Existem duas formas fundamentalmente distintas de utilização do Tarô. Ao se estudar o simbolismo, a constituição e a estrutura das cartas, as imagens dos Arcanos Maiores tornam-se um livro de sabedoria que descreve o percurso da vida do homem e, além disso, proporciona uma visão significativa sobre a realidade que existe por trás da realidade. Essa forma profundamente esotérica de se lidar com o Tarô restringe-se às 22 cartas dos Arcanos Maiores, que formam a verdadeira proposição filosófica e contêm a filosofia de vida do Tarô. Chaves importantes para esse plano profundo podem ser encontradas principalmente na Mitologia, na Alquimia e na Mística Numérica. Em contrapartida, as cartas dos Arcanos Menores, pelo que se sabe até o momento, nunca foram usadas com uma outra finalidade, senão a de consultar as cartas — a segunda
maneira de utilizar-se o Tarô, que é também a mais conhecida. . Nesse âmbito, as diferenças entre os Arcanos Maiores e os Menores diminuem, já que, ao se utilizar as cartas para uma consulta, elas são tratadas como se
tivessem quase a mesma importância.

O ACASO TEM SIGNIFICAÇAO NO TARO?

A proximidade entre oráculo e jogo não é um fenômeno que se restringe somente às cartas de Tarô. Outros jogos também se originaram de antigos oráculos, como, por exemplo, o jogo de dados, o sorteio ou o Mikado. Por trás disso está a convicção de que o acaso é algo significativo. A afirmativa que se ouve hoje em dia com frequência, de que "não existem acasos", parte do mesmo princípio, mas é, rigorosamente falando,
errada. O mais correto seria dizer que não existe nenhum acaso sem sentido. Isso corresponderia melhor ao significado original dessa palavra que surgiu na Idade Média e com a qual, a partir de então, designa-se algo que acontece a alguém. algo que lhe coube imprevisivelmente. A ideia de o acaso tratar-se apenas de uma arbitrariedade, uma fatalidade absurda ou um capricho do destino foi aceita facilmente pelo pensamento racional, pois assim ele se desvencilhava do apuro de ter de encontrar explicações para fenômenos inexplicáveis. Entretanto, a disposição de presumir uma força significativa por trás de um acaso vem aumentando consideravelmente. O que há por trás disso? Quando se traduz o conhecimento sobre o caminho de cura do homem, como ele é descrito nas mais diversas doutrinas espirituais da humanidade, para a linguagem da Psicologia, o nosso objetivo de vida encontra-se na busca da plenitude, e a força que impulsiona cada um de nós na sua direção é o ego. Esse é o nome que foi dado por C. G. Jung à totalidade, que engloba tanto o consciente quanto o inconsciente de uma pessoa. Como o nosso "Eu", sendo o centro do
consciente, é somente uma parte desse ego — e muito provavelmente somente uma parte bem pequena —, ele não pode fazer uma ideia abrangente da totalidade e, por isso, também não pode falar com precisão sobre sua natureza. Nós podemos, no entanto, atentar às suas mensagens, que captamos por meio de sonhos e inspirações, e observar sua atuação, ou seja, como ele se mostra por intermédio de muitos fenômenos casuais
em nossas vidas. Obviamente, o observador aqui faz parte do experimento, de uma forma semelhante à sutil Física Quântica. Quem vê os sonhos apenas como quimeras, mal pode perceber algo neles que faça sentido. Por outro lado, aqueles que se dedicam a estudar com atenção as inspirações do inconsciente, assim como também os acontecimentos casuais, percebem neles elementos de fato inusitados.

Os oráculos podem ser compreendidos também por esse prisma, pois, justamente por sua constelação casual, são capazes de fazer afirmações expressivas, ainda que tal suposição esteja em flagrante oposição à opinião científica. E exatamente aqui se encontra a objeção frequentemente ouvida em relação ao Tarô: "Mas, se as cartas forem colocadas cinco vezes seguidas, obter-se-á cada vez uma resposta diferente, por meio
das diferentes cartas". Isso é tão certo quanto errado. Realmente, em um caso destes, tiram-se em sua maioria cartas diferentes, mas isso não prova nada. Somente a argumentação racional se baseia na reprodutibilidade de um experimento. Para tal, é necessário excluir completamente o acaso e realizar uma série de experimentos sem nenhuma interferência em um ambiente adequado, como um laboratório fechado. Se o
experimento puder ser repetido inúmeras vezes obtendo-se o mesmo resultado, ter-se-á então a comprovação do mesmo. Porém, os oráculos baseados no acaso, assim como os sonhos, pertencem ao mundo irracional e não se deixam medir por meios racionais. Um sonho não precisa ocorrer cinco vezes para se tornar significativo. Um oráculo tampouco vive da reprodutibilidade. Enquanto no mundo racional o acaso é tido como uma grandeza incalculável e um indesejável "desmancha-prazeres", que pode vir a atrapalhar qualquer experimento, no mundo irracional ele se mostra como o fator de maior importância e expressividade. Por isso, a constelação de uma primeira e única disposição de cartas é significativa, e o fato de essa disposição não poder ser reproduzida inúmeras vezes não comprova nada.

Se acompanharmos o pressuposto da psicologia junguiana de que no inconsciente descansam forças que guiam a nós, seres humanos, então podemos compreender o Tarô como um diálogo entre o consciente e o inconsciente. Porque, assim como outras vivências e experiências pelas quais passamos são desencadeadas pelo inconsciente para que possamos tirar uma lição e, por meio delas, crescer e amadurecer, os conselhos do Tarô também surgem em nossas vidas como mensagens do inconsciente. Esse contexto deixa o oráculo aparecer sob uma luz completamente diferente e o transforma em uma fonte singular de autoconhecimento. Para que eles fossem entendidos sob essa perspectiva, o filósofo Thales de Mileto mandou inserir no Templo de Delfos, no início do século VI a.C., a famosa inscrição: "Conhece-te a ti mesmo", para deixar claro o verdadeiro sentido de todo e qualquer oráculo. Quem absorver essa mensagem e se deixar guiar por ela seguirá o caminho correspondente à sua própria individualidade e encontrará a si mesmo. Por outro lado, quem considerar o inconsciente apenas um "país das maravilhas", do qual emana um poder mágico capaz de explorar inescrupulosamente o "Eu" com a finalidade de saciar sua ilimitada necessidade de afirmação e suas
expectativas ingênuas sobre a sorte; quem quiser calcular com isso os números da loteria ou encarar o Tarô como um seguro espiritual contra os desgostos da vida, sentir-se- á, na melhor das hipóteses, decepcionado, quando não, sofrerá uma grande frustração. "Toda aproximação ao inconsciente com intenção de tirar proveito surte um efeito destrutivo", alerta a junguiana Marie-Louise von Franz. Ela compara esse processo à exploração desrespeitosa das florestas, à depredação exaustiva da natureza e ao saque ganancioso das riquezas do solo, o que leva invariavelmente à destruição do equilíbrio biológico. Na perda do equilíbrio, encontra-se também o significado original da palavra pecado. Talvez seja esse o perigo, que tem dado repetidamente às cartas do Tarô a má fama de ser o livro de orações do diabo.

AS CARTAS TRADICIONAIS VERSUS O TARO DE CROWLEY

Entre as muitas versões de Tarô conhecidas nos dias de hoje, o Tarô de Marselha é considerado o clássico, por ser o que mais se aproxima das ilustrações das cartas dos séculos passados. Contudo, não se pode dizer que aqui se trata das representações originais, pois as cartas apresentaram desde sempre uma grande variação e não nos é conhecido nenhum Tarô original. Uma característica típica das cartas mais antigas consiste no fato de que somente as cartas dos Arcanos Maiores, as Cartas da Corte (Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem) e, em alguns casos, os quatro Ases são ilustrados com figuras. Exceto os floreados e as grinaldas, as ilustrações das cartas restantes restringem-se essencialmente à reprodução numérica do seu naipe, de modo semelhante
às cartas dos baralhos atuais. Na carta CINCO DE MOEDAS, vêm-se cinco moedas, assim como na carta CINCO DE OUROS, cinco figuras representando "ouros". A interpretação destas cartas é algo compreensivelmente difícil. Ou se decoram todos os seus significados ou se utiliza um outro sistema para determinar a mensagem de cada carta.

Uma das possibilidades, por exemplo, consiste em fazer uso da relação existente entre as quatro séries dos Arcanos Menores e os Quatro Elementos, como é mostrado a seguir: Paus = Fogo, Espadas = Ar, Ouros = Terra e Copas = Água. Acrescentando a isso o conhecimento transmitido pela Mística Numérica sobre a qualidade dos números de 1 a 10, pode-se deduzir por meio desses dois componentes o significado de cada
carta. Como o número três representa, entre outras coisas, urna estabilidade sadia e crescimento ativo, e Copas, como o Elemento Água, representa o mundo dos sentimentos, temos a seguinte interpretação para a carta TRÊS DE COPAS: sentimentos intensos sobre uma base sadia. Sem dúvida, para a maioria das pessoas. esse tipo de acesso à mensagem das cartas é muito trabalhoso e hem menos inspirador do que uma imagem expressiva.

A INOVAÇAO DOS TAROS MODERNOS (GOLDEN DAWN, WAITE E CROWLEY)

No inicio do século XX, Arthur Edward Waite (1857-1942) e Pamela Colman Smith (1878-1951) criaram novas cartas que foram publicadas em 1910 sob o nome Tarô de Rider ou Tarô de Rider-Waite, que se tornaram as cartas de Tarô mais conhecidas e com maior propagação pelo mundo. Ambos os criadores dessas cartas eram membros da Ordem Hermética da Aurora Dourada, famosa associação esotérica que existiu em Londres na virada do século. Nesse círculo, do qual personalidades muito ilustres faziam parte, as pessoas ocupavam-se intensivamente com tradições ocidentais e em especial com o Tarô. A. E. Waite, que foi durante um período o líder dessa Ordem, era tido como a "biblioteca ambulante" da casa. Baseado no seu vasto e profundo conhecimento, ele concebeu as novas cartas, ilustradas pela artista P. C. Smith. Enquanto nas representações das cartas dos Arcanos Maiores é possível, na maioria dos casos, reconhecer o modelo clássico, nos Arcanos Menores houve uma criação completamente inovadora. Cada uma delas foi ilustrada individualmente e, a partir de então, é possível deduzir o significado de todas as 78 cartas por meio das
figuras. Nessa mudança, encontra-se um enriquecimento enorme, o motivo principal para a enorme popularidade e a ampla propagação dessas cartas de Tarô.

No segundo lugar em popularidade — pelo menos nos países de língua alemã e inglesa —, encontra-se um Tarô que remonta à pessoa amplamente discutida de Aleister Crowley (1875-1947), ao qual muitos conferem a má fama de satanista e praticante de magia negra, enquanto outros, dentre os quais pessoas muito inteligentes, vêem nele um grande iniciado. Crowley, que sofreu muito durante a sua infância sob o sectarismo estreito da casa de seus pais e não vivenciou o Cristianismo de forma alguma como uma
mensagem de amor, profetizou apaixonadamente o fim dessa religião, proclamou-se anticristo e, por fim, até se tornou preconizador de uma nova era. Por ele ter, com isso, provocado o medo do satanás, adormecido no homem ocidental desde os tempos medievais, e também por não ter deixado passar em branco uma oportunidade de se tornar impopular, ele não só foi tachado de grande facínora, como também ficou com
uma reputação de tal forma ruim que esta se perpetuou muito além do seu tempo. Até hoje, algumas almas temerosas estremecem só em ouvir o seu nome, e não são poucas as pessoas que temem ser a ocupação com a sua obra o ingresso garantido para o inferno. Isso não é verdade.

Crowley não era criminoso nem propagava o mal. Para ele, o Cristianismo tratavase da subjugação de uma crença ultrapassada e hipócrita. Com esse propósito, ele atreveu-se, de fato, a manchar os valores sagrados do Ocidente, ousadia pela qual nunca foi perdoado. Como a sua tentativa de fundar uma nova religião mundial tem até hoje permanecido sem nenhum sucesso que mereça ser mencionado e, além disso, a sua obra mágica desperta o interesse apenas de um pequeno circulo de iniciados entusiastas, o nome
Crowley já teria há muito tempo caído no esquecimento, se ele não tivesse, perto do fim
de sua vida, concebido um novo Tarô (pelo menos essa e a opinião de Hajo Banzhaf). Este surgiu em 1944 com o nome de O Livro de Thot, assim denominado em razão do deus da sabedoria e das fórmulas mágicas do antigo Egito. Nessas cartas, pintadas pela artista Lady Frieda Harris (1877-1962), ele deixou fluir todo o seu conhecimento mágico. Por ser um homem altamente instruído e viajado, e uma sumidade extraordinariamente versada em tradições esotéricas, não é de se surpreender que esse Tarô seja além de fascinante, até hoje inigualável em seu conteúdo simbólico e em sua complexidade.

Em comparação ao Tarô de Rider, essas cartas profundamente elaboradas causam, sem dúvida, uma dificuldade. As imagens são certamente fascinantes, mas não são simples, tampouco agradáveis, ate porque o cubismo plastico já não tao mais presente nos anos 40, ainda provocava estranhamento pro senso comum. Justamente por causa da profundidade e da riqueza de seu simbolismo, o acesso ao seu significado nem sempre é fácil. Além disso, soma-se o fato de Crowley, ao conceber as cartas dos Arcanos Menores, ter-se posicionado entre a representação simples, mas inexpressiva, das cartas antigas de um lado e os motivos de
compreensão fácil do Tarô de Rider do outro. Pode-se dizer que ele abstraiu em suas cartas as respectivas ideias. Dessa forma, o seu significado foi bem expresso, porém somente para aqueles que são capazes de decifrar os seus símbolos. Como que para amenizar um pouco essa dificuldade adicional, cada carta do Tarô de Crowley recebeu um nome. Para algumas pessoas, isso pode ajudar na interpretação das cartas. Porém,
muitos outros leem apenas o nome das cartas sem analisar a figura, que, comprovadamente, fala mais do que mil palavras, e acabam, muitas vezes, compreendendo pouco ou nada do que a carta realmente tem a dizer.

Além disso, as cartas de Crowley diferenciam-se dos baralhos usados como modelo também em sua estrutura. Há alguns anos, pareciam conter três Magos. Essa "mudança" não foi, contudo, idealizada por Crowley. As pinturas originais das cartas, que pertenciam ao espólio da pintora Lady Frida Harris, foram deixadas como herança para o Instituto Warburg em Londres. Quando Werner Ganser, que ficou responsável
pela nova edição desse Tarô nos anos de 1980, mandou fotografá-las novamente, descobriu duas variantes do Mago. Estas lhe agradaram tanto, que ele sugeriu ao fabricante das cartas adicioná-las ao novo Tarô de Crowley como peças de colecionador. Dessa forma, houve uma aparente ampliação desse Tarô para 80 cartas, mas que, entretanto, foi reavaliada; e a partir de 1998, os dois "novos" Magos desapareceram outra vez desse baralho.

Uma outra modificação que gera confusão é a nova denominação das Cartas da Corte. Elas interceptam-se em parte com os nomes antigos das cartas, causando equívocos, como é mostrado a seguir:

DENOMINAÇÃO TRADICIONAL

DAS CARTAS DA CORTE:

CARTAS DA CORTE

CORRESPONDENTES

NO TARÔ DE CROWLEY:

Rei Cavaleiro
Rainha Rainha
Cavaleiro Príncipe
Pajem Princesa

Além disso, algumas cartas dos Arcanos Maiores receberam novos nomes no Tarô de Crowley. A carta A JUSTIÇA passou a se chamar AJUSTAMENTO (VIII), a RODA DA FORTUNA, também conhecida em muitos lugares como a RODA DA SORTE, passou a ser chamada reduzidamente de FORTUNA (X), A FORÇA tornou-se VOLÚPIA (XI), A TEMPERANÇA transformou-se em ARTE (XIV) e O MUNDO
chama-se agora O UNIVERSO (XXI). A mudança fundamental ocorreu com a vigésima carta. Ela chamava-se O JULGAMENTO e mostrava o milagre da ressurreição no dia do Juízo Final. No entendimento de Crowley, esse tema pertence à Era de Osíris, a era dos deuses imolados e auto-sacrificados, que já caminha para o final. A sua nova carta O AEON representa o nascimento da Era de Hórus,26 que agora se aproxima e na qual Hórus pode ser visto como o senhor desse novo Aeon. Dessa forma, o significado desta carta também foi, obviamente, transformado. Ela não representa mais a salvação e o milagre da transformação, como nos Tarôs antigos, mas sim o nascimento do novo e uma visão de um futuro distante.

O TARO E O INCONSCIENTE?

O inconsciente possui uma relação com o tempo e o espaço diferente do nosso consciente e, por isso, é capaz de enxergar além dos horizontes do presente; uma situação que quase todo mundo já experimentou ao sonhar com o futuro ou ter tido uma premonição. Assim, como a linguagem do consciente compõe-se de palavras, o
inconsciente fala por imagens. As cartas do Tarô podem ser compreendidas como o alfabeto dessa linguagem figurativa da nossa alma, por meio do qual o inconsciente expressa como ele vê o tema de uma pergunta. Tudo o que o consciente tem a fazer é aprender a linguagem do inconsciente para compreender o que é dito.
A segunda consideração diz respeito ao conceito de simultaneidade. De sincronicidade, como C. G. Jung denominou esse fenômeno. Nós estamos acostumados a medir o tempo quantitativamente. Mas existe também uma qualidade do tempo, da qual a nossa linguagem ainda se recorda quando se fala de o "momento certo".

Sob essa perspectiva, cada momento tem as suas próprias características, que se mostram de uma mesma forma em planos diferentes. De uma forma macrocósmica nas constelações planetárias, de uma forma microcósmica no movimento dos átomos e entre esses dois planos, em muitos outros níveis, aos quais pertencem o Tarô, assim como o I Ching* e outros oráculos. Como em uma visão integral do mundo, a pergunta e a resposta constituem uma só unidade: no momento em que se faz a pergunta, encontra-se também a resposta. Ao conseguir reconhecer a qualidade do momento da pergunta, compreende-se
então a resposta. Por essa razão, é pouco relevante quais cartas de Tarô ou qual oráculo seja escolhido. O importante é que o intérprete compreenda a linguagem desse oráculo específico.


O HISTORICO DA EDIÇAO DO TARO DE CROWLEY

O Baralho Crowley tem uma historia longa e complexa. Não apenas Lady Frieda Harris levou cinco anos para pintar as cartas, como o trabalho completo levou 25 anos para ser publicado.

A primeira e pouco conhecida edição foi feita em caráter particular por Carr Collins e sua Fundação do “Santo Graal”, com sede no Texas. Foi uma impressão muito ruim, numa só cor. Apenas em 1969 um editor norte-americano de livros de ocultismo lançou a primeira edição em cores, sendo a impressão na verdade feita em Hong Kong.

Em 1979 as cartas finalmente foram publicadas numa edição de acordo com os mais elevados padrões tipográficos. Para se chegar a esse ponto, contudo, foi preciso superar vários obstáculos. No intervalo entre a edição da Fundação do Santo Graal e a edição corrigida, o curador da coleção dos documentos Crowley, mantidos no Instituto Courtauld, em Londres, recusou-se a permitir que os desenhos originais fossem fotografados. A grande coleção Crowley, doada ao Courtauld por Geraldo Yorke, havia sofrido diversos furtos e o museu estava se tornando cada vez mais cauteloso quando se tratava de autorizar o acesso a esses objetos. Foi apenas após mais de dois anos de negociação entre Weiser e o Courtauld que por fim surgiu
o primorosamente produzido “Taro Thoth”.

O QUE E CUBISMO?

Segundo Ferreira Gullar o Cubismo foi uma escola artística das primeiras décadas do seculo XX que teve como expoentes: Picasso, Braque, Juan Gris, Leger, Delaunay.

Gullar afirma que a maioria dos historiadores de arte apontam como os dois fatores mais importantes para a arte cubista foram, de um lado, a influencia de Cezanne sobre Braque e, de outro, o contato de Picasso com a escultura negra.

A denominação de “cubismo” para esse movimento, que teve sua fase áurea entre 1907 e 1914, não tem aplicação exata ao sentido verdadeiro dessa arte. Trata-se antes de um apelido pespegado ironicamente as primeiras manifestações dessa pintura, denunciando-lhe o aspecto mais contundente: a conformação em cubos dos objetos naturais.

Assim o critico de arte Louis Vauxcelles se refere as obras de Braque expostas numa pequena galeria de arte:

“Ele despreza as formas, reduz tudo, sítios e figuras e casas, a esquemas geométricos, a cubos”

Porem a breve cubificaçao dos objetos era abandonada tempos depois, partindo os já agora irremediavelmente cubistas para uma planificação dos objetos, o que fez desaparecer de seus quadros não só a terceira dimensão – uma conquista inegável do perspectivismo da Renascença – como também os cubos.

Desse modo, o nome cubismo nasceu pejorativamente, mas acabou sendo incorporado pelos artistas da nova estética.

O QUE HA DE CUBISTA NO TARÔ DESENHADO POR LADY HARIS?




Na Carta A Alta Sacerdotisa vemos em cores suaves a planificação comentada por Gullar.


Assim como na carta o Ajustamento em que a geometrização da figura feminina cria uma realidade gráfica própria.


Ou nos extremos do geometrismo que chega a ser a carta do Eremita, onde mal se consegue perceber a figura de um velho.


E ate uma certa influencia “art decó” no PENDURADO.


























CONSIDERAÇOES FINAIS

O objetivo deste ensaio foi o de revelar os aspectos estéticos do taro de Aleister Crowley, ainda que para tanto tivéssemos de fazer um longo preâmbulo sobre a gênese do taro, seus aspectos ideológicos e as implicações do comportamento nada convencional de seu autor, Aleister Crowley e de sua parceira desenhista, Lady Frieda Harris.

Os dois tiveram em suas trajetórias as marcas daqueles tempos frenéticos das vanguardas artísticas francesas e seu gosto por “epater le burguois!”. Assim, Crowley que era chamado por sua mãe, fervorosa protestante, de A BESTA, constitui-se num ancestral de outros escandalosos famosos como o pianista de circo Anton Sandor LaVey – que fundou a CHURCH OF SATAN e escreveu a Bíblia Satânica em 1968 e ate roqueiros midiáticos como o americano Marilyn Manson.

Pesquisador.