quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

RETRATO DE MÁRIO BARATTA


RETRATO DE MÁRIO BARATTA

Este estudo pretende analisar a obra "Arte Ceará: Mário Baratta: o líder da renovação ", organizada por Nilo de Brito Firmeza, também conhecido por Estrigas e publicado pelo Museu do Ceará e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará em 2004, dentro da Coleção Outras Histórias, coordenada pelo Professor Dr. Francisco Régis Lopes Ramos.

Mário Baratta, nascido em Vila Isabel no Rio de Janeiro em 1914, vem para Fortaleza em 1932. Foi funcionário do IBGE e desenhista técnico do DNOCS. Trabalhou em ampliação fotográfica e já como estudante da Faculdade de Direito, projetou painel e obelisco da mesma faculdade.

No meio do caminho esbarra com os quase anônimos pintores do Ceará. Passa a ser o aglutinador dos artistas plásticos locais e em 1941 surgem os primeiros salões de pintura, em torno das atividades do CCBA (Centro Cultural de Belas Artes).

No CCBA se revelam talentos de projeção futura como Antonio Bnadeira (1922 - 1967), Aldemir Martins (1922) e retiram do ostracismo o consagrado Raimundo Cela (1890 - 1954). Mário Baratta é um dos responsa´veis por estas revelações ou resgates, quando convence os pais de Antonio Bandeira e Aldemir Martins a financiar o talento deles ou quando entusiasma o velho mestre dos retratos de jangadeiros a participar do Salão Nacional de São Paulo, onde acabaria ganhando uma medalha de ouro.

Em 1943 surge o Salão de Abril criado pela UEE ( União Estadual dos Estudantes), que serviria de alicerce para a fundação da SCAP (Sociedade Cearense de Artes Plásticas) em 1944; a qual teria muita afinidade com o grupo CLÃ, aproximando artistas-plásticos e escritores cearenses.

Mario Baratta conciliará o escritório de advocacia com os ateliês de pintura alugados no mesmo edifício. Terá ainda tempo para pesquisas arqueológicas no interior do Ceará, do Rio Grande do Norte e o magistério como professor da Faculdade de Direito.

A obra "Arte Ceará: Mário Baratta: o líder da renovação" esmiuça a participação política e artística do advogado carioca nos bastidores das artes-plásticas cearenses; assim como, exibe uma coletânia de textos do ex-desenhista do DNOCS, publicados nos Jornais locais ( O Estado, Correio do Ceará, Unitário, O Povo) e nas revistas CLÃ e Revista da Sociedade Cearense de Geografia e História de 1945 a 1979.

Nos textos curtos e concisos exigidos pela magreza típica dos cadernos culturais dos jornais locais, Mário Baratta revelar-se-á um arguto comentarista da plasticidade produzida em Fortaleza e nas feiras do Cariri; como também um culto leitor de revistas americanas e inglesas de pintura encomendadas ao livreiro Edésio.

O leitor perceberá que a crítica de Mário Baratta dialoga com o Mário de Andrade de "O Baile das Quatro Artes", procurando sempre vislumbrar nas obras contempladas a , o artesanato, de onde talvez se revele o apuro acadêmico de quem foi desenhista técnico do DNOCS, ao lado de uma preocupação com a gestualidade pictórica, traduzida pelo seu respeito pela arte abstrata.

Mário Baratta, atento espectador de sua época e espaço, professará uma arte engajada sem ser panfletária e regional sem apelar para o folclórico. Em suma, um modernista atento às solicitações figurativas da "Guernica" do pintor Pablo Picasso ou das solicitações estéticas dos canaviais de José Lins do Rêgo.

O livro de Estrigas é uma obra muito interessante e bem coligida, em que o pintor e museólogo deu-se ao trabalho de vasculhar jornais embolorados pelas péssimas condições de conservação dos arquivos públicos locais. No entanto, há um único defeito no livro editado pelo Museu do Ceará: o de não ter ilustrações, o que obriga o leitor a trabalhar no campo da pura especulação, algo não muito prático em se tratando de livros que, a rigor, comentam quadros e esculturas.

Charles Odevan Xavier
Mestrando em Letras pela UFC.
charlesodevan@yahoo.com.br

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