quarta-feira, 5 de novembro de 2008

HOMENAGEM MAL FEITA A TOM ZÉ


Este texto tem todos os defeitos da minha prática escritural: não serão informadas as fontes, não serão informados os nomes certos das faixas fonográficas analisadas, não serão informados os créditos da faixa técnica do encarte do CD, porque ouvi o material fonográfico, o "corpus" de um arquivo de MP3 baixado "criminosamente" da internet.

Esse texto tem outros defeitos recorrentes de minha prática escritural: esse exercício auto-referencial obssesivo de ficar explicando os defeitos da minha prática escritural.Ou seja, a minha prática escritural tem algo de fagocitose sobre si mesma, como uma ameba que resolvesse devorar a si mesma num gesto desesperado de quem procura comida na geladeira ou na dispensa e não encontra.

E o que realmente fará a "porra" desse texto, desse maldito e vaidoso texto?
Esse texto pretende, eu disse pretende, repito, analisar a obra do compositor baiano, filho do município de Irará: TOM ZÉ.

Quem foi TOM ZÉ, eu disse TOM ZÉ e não TOM JOBIM.Quem foi?
TOM ZÉ foi e é um compositor nascido no território brasileiro e que começou a se destacar na mídia na época do finado TROPICALISMO.
Sua música "São Paulo" deve ter ganho algum prêmio ou colocação em algum festival da RECORD.
E também TOM ZÉ está na capa do disco-manifesto da Tropicália. Onde tem um finado ilustre lá no meio: TORQUATO NETO.

A obra de TOM ZÉ consegue juntar dois inimigos jurados de morte: O Ariano Suassuna armorial e o atonalismo de KOLLREUTER.

E isso fica patente em sua trilha-sonora de um balé de um grupo de dança, que deve ter sido o balé CORPO.

Tom Zé gosta de brincar com o passado como no cd "ESTUDANDO O SAMBA", elogiado pelo desagradável e cacafônico KOLLREUTER.O genial e experimental KOLLREUTER. E num espírito paródico Tom Zé acabou gravando o cd 'Estudando o Pagode", como se houvesse algo a estudar no Alexandre Pires ou no Harmonia do Samba. Cada um que estude o que quiser, tendo a bolsa da CAPES ou não.Cada doido com suas manias.E que doido genial é o Tom Zé.

A Tropicália teve o seu lado A, genial e midiático:Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, mas também teve seu lado B: Wally Saloormon, Jards Macalé e o suicida Torquato Neto.Tom Zé sempre foi do lado B da tropicália, embora tivesse amizade com o lado A.

E chegou a fazer sucesso por causa da repercusssão sobre sua música cantando as ruas sujas de São Paulo.Mas na década de 70 Tom Zé resolveu sabotar o seu próprio sucesso lançando o esquisitíssimo cd 'Todos os olhos', onde há um ânus com uma bila dentro.E a capa irritou os censores da ditadura, que não lembro agora se era apenas uma ditadura de aparato militar ou também de aparato econômico.Que importa, ditadura é sempre ditadura.Seja a ditadura de Fidel Castro, de George W. Bush, Saddam Hussein, Mikhail Gorbatschov,Stálin, Trotsky ou da ditadura da coluna Durruti da Espanha.Ditadura é sempre ditadura.

E em seguida conseguiu juntar seus trocados de professor da faculdade de música da Bahia e ficar gravando os seus próximos discos sem despertar o interesse do programa Flávio Cavalcanti.

Só que suas contas foram se acumulando e a esposa dele começou a ficar preocupada com a dispensa da casa, enquanto seu marido perdia tempo com compassos, harmonia, melodia, ritmo, tonal, modal e todas essas besteiras que não interessam aos programadores das FM's forrozeiras da cidade de Fortaleza.

Tom Zé estava ficando tão desesperado com a magreza de sua esposa fiel, que começou a pensar em aceitar o convite de ser frentista num posto de gasolina oferecido gentilmente por seu primo frentista de um posto de gasolina.

Só que em algum lugar do planeta, mas precisamente numa loja de discos de alguma capital brasileira, o compositor americano David Byrne, topou com um disco estranhíssimo na seção de samba de uma loja de discos do Brasil.O disco lhe chamou a atenção, um daquele vinis grandes, que dá pra ver a capa de papelão, toma espaço, arranha, exige um pick-up que preste e uma agulha de alta sensibilidade.Pois bem, David Byrne tinha esse hábito de comprar esses vinis velhos, esses bolachões aposentados pela indústria fonográfica, até porque como ele é americano, ele tem dinheiro para comprar pick-ups e agulhas de alta sensibilidade para ouvir discos de vinil ou até de cera ou acetato ou sei lá.Talvez o professor Cristiano Câmera possa nos explicar melhor qual a diferença entre um disco de acetato, de um gramofone, de um disco de cera, embora, ao contrário de David Byrne, o professor Cristiano Câmera não receba nenhum centavo para essas pesquisas, nem ele, nem o NIREZ, nem ninguém no Brasil. O Brasil prefere investir em coisas mas úteis, como por exemplo, a melhor maneira de poluir os rios, os lençóis freáticos, os povos ribeirinhos, o povo sertanejo naqueles mega-projetos de que eu falei antes, não percamos tempo com o que já foi falado.
Sim.Mas o que chamou tanto a atenção do americano David Byrne naquele disco do Tom Zé numa seção de samba?

A capa.

Uma capa de disco de samba cheia de arames farpados.Que coisa estranha para se pôr na capa de um disco de samba. E isso levou David Byrne a comprar o disco.Ele nem sabia quem era Tom Zé.Ele conhecia o lado A da tropicália.Mas o lado B, não.

E ficou maravilhado com o que ouviu.Era algo novo, esquisito, fora do prumo.Era samba mas tinha compassos novos, era algo timbrístico.Muito esquisito.

E Tom Zé lá estava coitado, professor da faculdade de música, a atender clientes endinheirados que chegavam no posto de gasolina.Quando de repente David Byrne entra em contato com ele.

Resumo:por causa de David Byrne e do seu selo musical, hoje Tom Zé é ouvido no mundo todo.

A música de Tom Zé é irônica, paródica, auto-referencial, metalinguística, metamusical.E por isso jamais tocará no programa do Faustão, mais interesssado no ADO ADO CADA UM NO SEU QUADRADO.

Mas Tom Zé tem seu público.Faz seus shows.E tem dinheiro para regar suas plantas e alimentar sua esposa.

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