Blog de crítica cultural e criação poética. Propõe o controle social da produção em escala transnacional.Questiona a sociedade pautada pelo dinheiro, valor, trabalho, representação política, capital, mercadoria, estado e outras categorias imanentes à sociedade produtora de mercadorias. Exibe exegese bíblica não-cristã para descristianizar as subjetividades.Exibe pesquisas sobre sistemas simbólicos das religiões da diáspora negra.Exibe estudos LGBTT numa abordagem anarco-punk queer.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
SOBRE DEUS
SOBRE DEUS
"A crença em Deus e no Diabo, por mais bizarra que seja, faz desses dois fantasmas uma realidade viva logo que uma coletividade os julga presentes o suficiente para inspirar os textos de suas leis"
Raoul Vaneigem
Este texto pretende ser uma livre reflexão sobre a divindade. Tão livre e racional que poderá chocar um ou outro cristão, mais acostumado em sentir deus, do que propriamente pensá-lo.
Deus é um desses fenômenos curiosos de que se ocupam os humanos. É interessante perceber que algo que não ocupa lugar no espaço - portanto, não tem largura, altura ou comprimento e o que não tem medidas não existe; é o que diria qualquer terceiranista de Física - ocupa a mente e o coração das pessoas.
Alguns dizem que Deus é um só, entretanto cada povo deu uma versão diferente de Deus. A versão bíblica é a mais mesquinha de todas: um Deus rancoroso, vingativo, machista, racista, misógino e homofóbico. A versão do povo iorubano da África talvez seja a mais generosa de todas:Um Deus representado pela chuva que molha o campo e traz caça e pesca para todos.
Não diria que Deus existe ou não, porque a partir do momento em que problematizo Deus e sua existência, ele automaticamente passa a existir, ainda que não exista de fato.
Deus é uma abstração.Talvez por isso, Platão o tenha colocado ao lado dos logaritmos e das formas geométricas puras de um suposto mundo das idéias. O mundo das idéias platônico também não ocupa lugar no espaço e, no entanto, está na cabeça de qualquer matemático, engenheiro ou arquiteto.Assim à alegoria desse mundo desterritorializado corresponde a idéia de Deus.
No romance "O perfume" de Patrick Süskind, o protagonista (um assasino serial) por uma deficiência cerebral tem uma dificuldade enorme de entender abstrações; ele só entende o que tem cheiro. Assim, Deus, bem, mal, certo, errado são sem significado pra ele e isso justifica os seus crimes.
Isto traz uma boa divagação pra nós. Se Deus é inodoro, invisível e intangível, contudo isso não é o suficiente para que digamos ser Deus uma imensa alucinação coletiva. Estado, Nazismo e Amor também são inodoros e quem ousaria dizer serem as três coisas citadas alucinações?
No meio anarquista de que faço parte, não é muito inteligente acreditar em Deus. Deus seria, ao lado de conceitos como Pátria, propriedade, uma grande mistificação ou superstição, que tem sido usada para escravizar as pessoas.
Realmente o Deus pessoal da Bíblia foi usado para massacrar indígenas, escravizar africanos, espoliar judeus e árabes, perseguir homossexuais, queimar cientistas e bruxas na Idade Média. Assim, a história da igreja é uma história de crimes e atrocidades.
Mas se Deus existir e estiver acima das conveniências e interesses de humanos poderosos? Carl Sagan, astrofísico, respondeu a um repórter sobre sua opinião em relação a existência ou não de Deus: "Bem...Se você chama Deus uma força que garante o equilíbrio cósmico.Sim, eu acredito em Deus. Mas emocionalmente isso é nulo, pois ninguém rezaria para a lei da gravidade".O interessante é que os hindus intuiram isso há cinco mil anos, quando conceberam o ser supremo no frio e impassível Brahman.
Assim, Deus existiria, mais estaria mais próximo do "relojoeiro" que concebeu um universo que funciona sozinho e sem a sua constante intervenção, do que ser um suposto poder executivo de uma "sociedade bem policiada" que partiria de um centro que a Astrofísica já demonstrou não existir.
E pra finalizar. Seria Deus uma consciência internalizada do certo e do errado que surge em momentos de dúvida, como uma espécie de repositório onde a cultura depositou tudo o que deve ser feito e tudo o que deve ser evitado? Mas não seria isso que Freud batizou de "Superego"?
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