Blog de crítica cultural e criação poética. Propõe o controle social da produção em escala transnacional.Questiona a sociedade pautada pelo dinheiro, valor, trabalho, representação política, capital, mercadoria, estado e outras categorias imanentes à sociedade produtora de mercadorias. Exibe exegese bíblica não-cristã para descristianizar as subjetividades.Exibe pesquisas sobre sistemas simbólicos das religiões da diáspora negra.Exibe estudos LGBTT numa abordagem anarco-punk queer.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
CANTARES DE ORIXÁ
CANTARES DE ORIXÁ
CANTO A OLORUM
Evocar o criador
que vive no céu e acima dele
em todas as partes e em parte alguma.
Sua grandeza não cabe em templos, altares
ou ocas
e é tão pequeno que está no orvalho.
Sua voz é o trovão
Seu afago é o vento
Dispôs os campos
Ergueu montanhas
Criou os rios
Plantou o capim
A chuva cai
e amacia o dia
doce frescor
Ele é o Escultor
O que sopra
Traz as estações
O mais antigo
O que se encontra em todo o lado
O grande oceano cujo penteado é o horizonte.
CANTO A IEMANJÁ
Dos seios de Iemanjá
brotou rios para pescar
Do ventre de Iemanjá
nasceram todos os orixás
Estribilho:
Vou mergulhar nas águas
profundas do mar
Suas tranças
são de algas
as algas verdes do mar
Vou lavar minh'alma
Iemanjá casou com Odudua
que na hora da lua
partiu para guerrear
Iemanjá pariu Orugã
O senhor do ar
No dia que a vê nua
Orugã quer namorar
Repete o estribilho
Vou lhe reverenciar
com a pedra de Itá
bracelete de metal
e contas de cristal
É minha mãe Iemanjá
senhora das águas
na calunga grande
estão seixos e conchas
corais e rochas
vou pular sete ondas
Repete o estribilho
A oferenda anual
É de flor natural
colares, braceletes
tecidos, lenços de seda
perfumes, sabonetes
para minha mãe Iemanjá
Odoyá! Odoyá!
CANTO A OMULU
Sou filho de Omulu
e como Moisés
invocarei o senhor das moscas
para destruir o faraó
Mandarei gafanhotos,
pulgas, sapos, água em sangue
magreza e fome
Não mexam comigo
pois sou protegido pelo Inimigo
Não mexam comigo
que perfuro teu umbigo
Curo doenças, pestes, bexiga
varíola, lepra e aids
é só entrar numa simples maloca
de barro
e numa cuia me oferecer pipoca
e sarro.
CANTO A OXÓSSI
O caçador de tanga verde
traz o arco e a flecha
na sua elegãncia de atleta
domina os espíritos da floresta
Ele sorve o mel
doce nectar
sua oferenda predileta
As folhas de mangueira
farfalham
cantando sua leveza
Os jatis zumbem sobre brancas flores
O guerreiro descança à sombra da Oiticica
O irapuã recolhe seu ferrão
O aracati traz a brisa salina de Janaína
A buriti recende seus olores
Ogum é seu irmão.
CANTO A XANGÔ
Lá vem o rei
do império nagô
Ele vem forte, bonito
Seu nome é Xangô
Estribilho:
É o raio
É o fogo
É a balança na mão
É a fagulha,
a centelha do meu coração
Von invocar com todo vigor
O amante dileto da senhora Iansã
Um pai severo, todo rigor
Não tolera, não aceita
a mentira malsã
Ele afasta, ele enjeita todo langor
Atroz e certeiro como carapanã
Seu nome é Xangô
Repete o estribilho
Nas pedreiras vou buscar
a justiça, o empenho para me libertar
De marrom coloquei um lírio no chão
Lá no alto da serra soou o trovão
Vou cantar, vou dançar
Pra ele me abençoar
Repete o estribilho
Implacável, meu senhor
É o libertador
É guerreiro, destemido
Seu nome é Xangô
O SENHOR DOS FERROS
a Ogum
Os marciais estão chegando
vêm reunidos em exércitos
vestidos de vermelho, verde e azul.
São intrasigentes, brutais e agressivos.
Cultuam a faca, a foice, a espada, o sabre, a enxada, os ferros.
Com os ferros se cultiva a terra.
A imagem doa arado fazendo sulcos,
remexendo pedregulhos
e abrindo o ventre do solo.
Cantar a técnica, o uso, a perícia
A habilidade do estrategista.
CANTO A OXUM
Os raios de sol
perfuram a cerração
em meio ás árvores altaneiras
Próximo de uma palmeira
o rio corre cristalino
e cai na cachoeira
Negras se banham
nas águas claras
querendo ser parideiras
O instinto primitivo
as faz feiticeiras
Uma bela negra
farta de seios
e carnes
traz safiras, rubis
pulseiras, colares
É filha de Oxum
se olha no espelho
e borrifa perfumes
nos ares.
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