Blog de crítica cultural e criação poética. Propõe o controle social da produção em escala transnacional.Questiona a sociedade pautada pelo dinheiro, valor, trabalho, representação política, capital, mercadoria, estado e outras categorias imanentes à sociedade produtora de mercadorias. Exibe exegese bíblica não-cristã para descristianizar as subjetividades.Exibe pesquisas sobre sistemas simbólicos das religiões da diáspora negra.Exibe estudos LGBTT numa abordagem anarco-punk queer.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
QUESTÕES SADIANAS
QUESTÕES SADIANAS
Charles Odevan Xavier
"O mundo existe para me proporcionar 24 horas de prazer e gozo"
Marquês de Sade
A epígrafe deste texto resume toda a filosofia de Marquês de Sade. O escritor francês produziu uma obra controvertida, polêmica e polissêmica, que motivou as interpretações mais diversas. Uns vêem na obra um libelo anticlerical e anárquico, outros pensam o contrário: uma obra em que o liberalismo burguês não consegue esconder uma certa contrição ultra-católica.
Sade precede Stirner no seu individualismo libertino. O mundo que Sade pretende erguer seria uma sociedade de indivíduos livres e libidinosos completamente embriagados pela luxúria sexual e pela gula mais desregrada.De uma certa forma, Sade precede o "além-homem" de Nietzsche.
Quem suportaria uma nação, um continente repleto de homens que querem gozar initerruptamente? Como ficaria o abastecimento? Quem trabalharia, enquanto esses libidinosos experimentam as saliências e reentrâncias pulsantes e latejantes de seus corpos? E quem seriam esses eleitos? Os pobres e miseráveis também poderiam se entregar a lassidão dessa república de prazeres? Ou seria uma cruel e insana tirania a mais a violentar corpos de crianças, alimentando irrefreávies pesadelos pedófilos?
Durkheim e sua teoria das sanções ajuda-nos a entender o porquê dos indivíduos,sob o pesado braço do estado, não poderem dar vazão aos apetites e instintos mais animalescos.
Vivemos em uma sociedade de controle deleuziano alicerçada num pirãmide foucaultiana de olhares. Assim, retomando a utopia totalitária de Orwell, todos vigiam a todos. O pai libidinoso é vigiado pela filha da Legião de Maria. O professor anarquista é denunciado à coordenação da escola católica pelo aluno escoteiro.
O estado de direito é a Lei em que todos os crimes possíveis e imaginários estão prescritos. Como uma imensa rede, a Lei existe para prender e enganchar a todos os desejantes e libertinos. Contra o prazer conjuram juntos o Tribunal, a Prisão e a Religião.
Sade é um território perigoso e fascinante.Tanto que Raoul Vaneigem disse que Sade foi, ao mesmo tempo, o último senhor e um dos primeiros a bradar contra a dominação total do homem.
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