segunda-feira, 1 de junho de 2009

TRABALHO SOCIAL, PODER E SATANIZAÇÃO ENTRE EVANGÉLICOS


Este estudo pretende problematizar várias questões referentes ao trabalho social feito por evangélicos e as implicações do Poder sobre o entendimento da natureza desse trabalho.O artigo também pretende abordar a estratégia de satanização como forma de exercício de poder.


A filantropia na década de 80 era vista por setores da esquerda como assistencialismo que promovia, junto aos setores de baixo poder aquisitivo, mais dependência do que emancipação social.Hoje em face de termos na América Latina vários governos protagonizados por setores de esquerda e - mais especificamente no caso brasileiro, um segundo mandato de um governo de esquerda com vários programas de renda mínima(Fome Zero, Bolsa Escola etc.) - a crítica ao assistencialismo parece coisa do passado, já que até os governos de esquerda o fazem.


As igrejas evangélicas são estruturas de poder, é lógico que não tem o respaldo de uma máquina pública como a rede social governamental, mas possui muito poder econômico e simbólico.


O poder simbólico das igrejas compreende-se como a esfera de controle social sobre o imaginário populacional.A igreja pretende controlar a subjetividade das pessoas de seu raio de ação e de fora delas através de diversas estratégias.Os pastores de seus púlpitos televisionados ou não controlam o comportamento de seus fiéis apelando para os preconceitos e predisposições de cada um, ora satanizando religiões afrobrasileiras, ora satanizando minorias sexuais.


O poder econonômico compreende-se como a esfera de poder alicerçada no dizimismo que poderá sustentar o trabalho pastoral das igrejas evangélicas mais sérias como os luxos dos pastores das igrejas calcadas na teologia da prosperidade.


Todo esse preambulo foi para falar não do trabalho institucional dessa ou daquela igreja evangélica de grande porte (como por exemplo, a ação de solidariedade aos desabrigados das enchentes do sertão cearense) mas do chamado "trabalho de formiguinha" feito anônimamente por esse ou aquele evangélico longe dos holofotes da mídia.


Nesse parte para entender a fenomenologia desse trabalho não podemos deixar de pensar no conceito da micropolítica. Quando um eletricista evangélico de um bairro pobre escolhe um adolescente do seu quarteirão para ensinar-lhe os rudimentos do ofício de eletricista, esse senhor sem saber está fazendo trabalho social e está tendo uma atuação micropolítica.Quando um casal de evangélicos resolve se dedicar nas horas vagas a atender moradores de rua, fazendo-lhes a barba, cortando-lhes as unhas, dando-lhes banho, mesmo sem este casal ter posses ou o respaldo da cúpula da igreja, eles estão fazendo trabalho de assitência social.


Como sou anarquista, essa fenomenologia muito me interessa, pois o anarquismo busca cada vez mais a descentralização da sociedade em escala global e internacional, entendida como o "despoderamento" gradual das instituições, visando o "empoderamento" contínuo das pessoas.


Quando o eletricista do exemplo anterior, mesmo sendo de uma classe social de baixo poder aquisitivo resolve escolher um adolescente para ensinar-lhe o seu ofício ele está demonstrando o quanto é "poderoso".O quanto ele é sujeito, numa sociedade educada pelas instituições do poder que o quer reduzir a objeto.


A noção de igreja como "ecclesia"( comunidade) revela o princípio comunal de que se reveste.O pertencimento evangélico revela como os irmãos se solidarizam entre si e fora de seu círculo de relações - falo aqui não só do eletricista ou do casal que atende os moradores de rua, mais de iniciativas isoladas deste ou daquele pequeno grupo de resolve fazer uma benfeituria para uma família pobre, por exemplo. Ás vezes este trabalho poderá ser feito com intenções de proselitismo religioso e, às vezes, não, será apenas visando a solidariedade desinteressada.


Todo essa fenomenologia mostra a peculiaridade do pertencimento religioso dos setores populacionais evangélicos.

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