sábado, 8 de novembro de 2008

EU VIVO CRITICANDO

"A fé na remove montanhas,
apenas coloca montanhas
onde não há nenhuma"

FRIEDRICH NIEZTSCHE
Filósfo alemão com o rigor anglo-saxônico dos alemães.





Eu vivo criticando.Porque nasci e fui criado num ambiente de críticas, fossem justas ou injustas.Não eram propriamente críticas, mas reprimendas.
E de uma mulher que eu julgava inferior intelectualmente a mim, embora fosse muito hábil em cozinhar e fazer certos negócios ilícitos para ter aquele patrimônio decadente que ela tem.
Ela não é perfeita, é humana.
Eu não sou perfeito, fui humano.
Não vou ficar fazendo inventários do que ela possui e como adquiriu o que possui.
Mas posso citar, por exemplo, que durante algum tempo o seu colégio tinha um gato.A COELCE pode averiguar.
Eu disse tinha.Porque averiguação de medidores de luz não é a minha especialidade.
O que eu aprendi com essa professora primária, sozinha, sem marido, que tentou me criar e criar uma filha que tem predisposição ao alcoolismo?
Eu aprendi que a gente tem que ser eficiente e preocupado o tempo todo.Porque ela com o rosário na mão, não leu
a parábola:

"Olhai os lírios do campo
Eles não fiam,
Eles não tecem
e nem Salomão
em toda sua glória
e em todo o seu fausto
jamais conseguiu se vestir
com toda beleza
pelo criador e geômetra do Universo"

Jesus, o não-CRISTHUS. E sim, hebreu.

E eu o que aprendi até agora com as instituições do patriarcado judaico-cristão?
Que o patriarcado se baseia no pátrio poder.
O poder de vida e morte sobre a esposa, o filho, o neto, o servo.

Sim.Eu sei disso, consegui ler e escrever, porque aquela mãe que me adotou, cheia de problemas gerados pelos excessos e desmandos do patriarcado, me ensinou a ler ou a escrever.
Quer dizer, tentou. Mas não conseguiu.
Porque embora fosse professora do MOBRAL.
Comigo, o seu método de eu fixar as sílabas alfabetizadoras
sempre eram pontuados por cascudos no meu cucuruto.

Como manda a tradição dos sertanejos de onde ela saiu e ora ama e ora detesta.
Portanto, eu não odeio a minha mãe.Eu não quero matá-la.
Mas ela é doente.
E eu não sou geriatra.

O meu pai legítimo, que deve existir, porque eu sou fruto
das combinações enzimáticas
entre óvulo e espermatozóide.
Assim, ensina o cânone da genética ocidental.
Pois bem, esse meu pai legítimo, eu não sei quem é.


Então, da presença opressiva da minha mãe na infância e de sua total ausência na adolescência
e da ausência do meu pai legítimo.
O que eu fiz?
Minha mãe, não me entendia.Não conseguíamos estabelecer uma língua comum entre nós.
Mas todos os dias ela trazia um livro do Conselho de Moradores do Bairro João XXIII.
Eu não sabia ler suas sílabas, mas fiquei encantado com as imagens e com a preocupação de minha mãe em trazer um livro para mim.
Como eu não era alfabetizado, mas vivia num ambiente letrado, ainda que com probições de certos conteúdos, porque nasci na Ditadura Médicci, fiquei vendo aquelas imagens.
O vereador Maurílio Assêncio sempre deixava uma porta aberta no Conselho de Moradores do Bairro João XXIII, em que eu curioso, malino, entrava sem ninguém perceber e fica xeretando um boneco de carnaval que ele usava em certas festas do bairro João XXIII.Um boneco grande, tipo aqueles de Olinda em Pernambuco.
O vereador Maurílio Assêncio sempre trazia para o bairro João XXIII, eu disse JOÃO XXIII.
Um bumba-meu-boi para a criançada e seus pais pobres e de baixo poder aquisitivo ficar vendo a cultura popular.
E sabe o que me chamou a atenção naquele Bumba-meu-boi que ele sempre trazia?
Não era o boi, afinal nunca tive interesse em ser pecuarista.
Mas um bicho esquisito, grandão, que fazia medo os meninos, um bicho que parecia um pássaro, mas que tinha dentes.

Eu na minha imaginação de criança, enquanto a meninada corria com medo do bicho para fazer hora, para se divertir.

Eu não corria com medo, não.
Eu ficava observando aquele bicho curioso.
Seu corpo era grande e colorido.
Mas eu acho que eu conseguia perceber que havia um homem por debaixo
daquele bicho, manipulando o bicho.
E comecei a prestar atenção na boca do bicho.
Era cheia de dentes, e dentes afiados, famintos.
E ficava observando e intrigado:
Peraí esse bicho colorido, feito de pano, que tem aparência de pássaro,
mas tem dentes
não parece com nenhum bicho que tem no meu quintal.

E que bicho era aquele?

Não sei.Devia ser fruto da imaginação do artista que o fez, que o costurou, que o manipulou.

Mas como tenho BOA MEMÓRIA
os meus esquemas cognitivos
dispararam um FRAME:
esse bicho parece com a aquele bicho
que eu vi ontem
no canal 5.
O canal 5
TV EDUCATIVA
PÚBLICA
DO GOVERNO MILITAR
QUE EXIBIA
aulas de Biologia,
Fisiologia,
Anatomia,
Paleontologia,
Arqueologia.

O frame que me veio a cabeça
foi a de um DINOSSAURO.

Portanto, desde criança
que eu tenho interesse por coisas
que assustam.

Estudar
como certos monstros se locomovem,
como eles devoram,
como eles vomitam,
como eles defecam.

E o que eu concluí disso tudo?
É que no Brasil
as pessoas que manipulam mamulengos e
os que estudam o funcioamento
mecânico
de monstros orgânicos
e inorgânicos
ganham pouco.

Por isso,
quero ir embora
desse país
e ir
para outro
país
onde as minhas
obssessões
sejam tratadas e acompanhadas
por especialistas bem remunerados.

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