Blog de crítica cultural e criação poética. Propõe o controle social da produção em escala transnacional.Questiona a sociedade pautada pelo dinheiro, valor, trabalho, representação política, capital, mercadoria, estado e outras categorias imanentes à sociedade produtora de mercadorias. Exibe exegese bíblica não-cristã para descristianizar as subjetividades.Exibe pesquisas sobre sistemas simbólicos das religiões da diáspora negra.Exibe estudos LGBTT numa abordagem anarco-punk queer.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
PALAVROSOS
PALAVROSOS.
Minha prosa-poética precisa cantar alguma cidade específica.Precisa louvar algum herói que irá dar sentido a vida na cidade grande.Precisa tecer injúrias contra a civilização capitalista.Precisa, escrita imprecisa.
Guimarães Rosa escrevia aparentemente sem assunto no seu Grande sertão e somos confrontados com seu estilo caudaloso onde os substantivos e lexemas deliciosos do sertão mineiro e goiano nos pegam e nos seduzem, numa prosa livre e escorreita.
Pronto! Guimarães Rosa será meu primeiro herói na travessia deste texto interminável e palavroso.
Mas aqui o leitor talvez questionar-se-á se isso tudo aqui será literatura ou discurso sobre literatura.
Nem o autor sabe, querido. Proust também tem seus momentos metaliterários assim como Pedro Nava. E com essa filiação pretende penetrar surdamente no reino drummondiano das palavras.
Palavroso porque esse texto canta a própria impossibilidade de calar-se, nesse texto tagarela barthesiano.
A tagarelice pode soar ora prolixa ora o seu oposto lacônico.
A impaciência de ter de dizer algo útil, tipo ensaio acadêmico sem sê-lo, torna esse texto desesperadamente visceral e ascético.Ascese acesa.
O melhor seria eviscerar esse texto, tirar suas unhas de bicho de pena, seus canhões de galinha depenada e todas as suas impurezas e tripas.
Ficaria um texto heideggeriano, clareira do ser.Mas não seria como o seu autor, disfarçado nesse narrador trôpego que tenta não se mostrar, tenta se omitir do que narra e por isso tanto aparece e se mostra.
A metafísica talvez não caia bem nesse texto que não soube ler o dicionário de ontologia.Mas quem se importa? O editor teve a ousadia de publicar o livro e então o leiamos.
Agora ao escrever isso, lembrei-me de Foucault e o seu estilo lírico no Arqueologia do Saber.Mas ali não há literatura, embora pareça.
Estou me sentindo incomodado desse texto até agora não apresentar um enredo mínimo, uma trama qualquer, alguns personagens. Falta de criatividade do autor, talvez.
Esse é o mal dessa literatura pós-moderna que não quer vender um peixe qualquer para o leitor, que quer apenas comentar a literatura.Esse é o mal desse texto que começou bem frouxo e que talvez não consiga seduzir o leitor até o fim.
Vamos então fenomenologicamente cantar as cores da cozinha da casa do autor.Que tal?
Todo o impressionismo cinza dessa toalha no varal sacudida levemente pelo vento.Essa escada poeticamente ao lado de um botijão de gás de cozinha.Essa cercadura velha de bebê jogada no canto com seus róseos roídos pelo tempo.Apoteose freeganista.
Aquele prato indígena trazido do Pará lá na parede.Foi um encontro de estudantes interessante que houve em 98.Os rios sujos de Belém me impressionaram, assim como seus cemitérios sem muros.
O boi bumbá no palco da faculdade me soava como música andina, foi estranho.
Comi muito cupuaçu.Bolo, creme, sorvete, trufa...tudo de cupuaçu.Fiquei pesando uns 98 quilos no fim da viagem.
Mas gostaria de ter me misturado mais com o povo de Belém, ficamos todos muito isolados no campus da UFPA.
Tenho uma foto tirada em frente a uma casarão de Belém dessa época.Um casarão verde com madeirados brancos e velhos.
Andamos pela cidade de Belém a procura de artesanato indígena até que encontramos num bairro que não lembro o nome.
Pronto! De repente o texto adquiriu uma dicção memorialista ora bolas! ora rolas!
Mas, para quem havia citado Pedro Nava, até que uma pitada de memorialismo cai bem
Os pregadores repousam lívidos e líricos sobre o varal de roupa.Por que não descrever as bugigangas jogadas numa das mesas da cozinnha?
Descrever coisas sem valor tem sido um traço do modernismo literário.Que o diga Manoel de Barros.
Lá fora toca um forró eletrônico desses bem derrubados.Tenho um amigo, o Calanguete, que sempre ironiza esses ritmos populares – tipo swinguera, forró, pagode e outras merdas - de forma muito engraçada, que só falta me acabar de rir.
Não que os meus amigos sejam palhaços mas eu gosto muito de rir com eles.
A enunciação do texto saiu de uma impessoalidade para a primeira pessoa e pode voltar a impessoalidade novamente sem aviso prévio ao leitor.
Estou ouvindo agora a OI FM pois estou enjoado das músicas do meu MP5.Um programa de black music americana.Depois de 25 minutos ouvindo soul music a gente fica um pouco achando tudo muito sacal.Espero que mudem de programação porque tá chato.
Num dos textos de Leila Perrone-Moisés sobre o noveau roman ela comenta que um dos autores franceses, na falta de assunto, começou a descrever que furiosamente remexia os próprios bolsos...
...Eu preciso escrever sobre qualquer coisa numa prosa poética, como sou ensaísta tudo escrevo parece que sai meio como que comentário ou crítica.
Agora em 2010 preciso encontrar meios de sobrevivência.Penso em dar capacitações em africanidades e religiosidade para professores da rede pública.Tudo vai depender das negociações com uma empresa que conheci.
Talvez coloque um negócio próprio de pesquisas escolares, pois agora que tenho um notebook falta só instalar internet (ainda que seja internet discada). Digo talvez porque eu tenho o imóvel mas não tenho o capital mínimo para investir.
Hoje postei uma crítica ao Berkelley em Bellagio do romancista gaúcho João Gilberto Noll em meu blog.Consegui uma foto dele no Google. Na foto o autor de Fúria do corpo está sentado numa poltrona ao lado de uma pilha de livros.
Fico pensando no dia que serei eu a ter uma foto ao lado de uma pilha dos meus próprios livros até agora não publicados. My god! Aquele orçamento de 23 mil reais por uma tiragem de apenas 3 mil exemplares do meu livro de crítica de 350 páginas dado por uma editora local, me deixou bem desanimado para publicar.
A editora 7Letras, por sua vez, não se manifestou até agora sobre meu livro enviado a mais de 6 meses.
Agora nessa hora da madrugada fico pensando no bem que faria se voltasse a estudar inglês de conversação.Teria mais chances de dar aulas de cultura brasileira em alguma universidade americana.
Se vir o dinheiro do Ministério da Cultura logo, penso em comprar um teclado para eu mesmo poder compor as trilhas dos meus vídeopoemas
Preciso concluir o mestrado em literatura para ver se as portas profissionais se abrem para mim, pois só com a graduação serei obrigado a dar aulas para adolescentes chatos e barulhentos.
Mas o que tem a ver esses últimos parágrafos com o tom inicial da prosa-poética? Ficou excessivamente confessional? Talvez.De repente o texto virou um trecho de diário íntimo muito bom para um blog mas fútil demais para ser arrolado entre grandes autores.
Voltemos a ser confessionais...
...O que devo pesquisar no mestrado? A obra Bere’shit do poeta e crítico Haroldo de Campos? As cartas de Caio Fernando Abreu? Ou Berkelley em Bellagio do Noll? As razões instrumentais de se pesquisar o livro em que o poeta paulistano “sampleia” passagens do Gênesis e as refaz do seu modo são simples: aproveitaria o que ando lendo sobre religião, me desenvolveria como tradutor e mexeria com um autor que é mais badalado pelo concretismo - que ele próprio abandonou após 1963 – do que mexer com o seu lado ensaísta e tradutor. Já as cartas de Caio Fernando Abreu são um ótimo corpus
para se conhecer as nóias do autor de Morangos Mofados, assim como conhecer a época turbulenta do mesmo.Por sua vez o livro de João Gilberto Noll é extremamente instigante.A única vantagem dos três temas é que eu posso ser orientado pelo mesmo professor.
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