sábado, 31 de janeiro de 2009

PÓS-MODERNIDADE E ENSIMESMAMENTO


Este texto surge de uma constatação: o ensimesmamento é a tônica dos habitantes de Fortaleza.


Cada vez menos há lugar em Fortaleza para uma boa conversa.Há cada vez menos lugares com pessoas interessantes para se conhecer.


Nas praças públicas do Centro da cidade, o movimento de pessoas diminuiu bastante, principalmente depois das 20 horas. Para onde vão os transeuntes das praças? Para os bares onde não se pode conversar, devido à música barulhenta ou será que os transeuntes nem saíram de casa com medo de assaltos e estão na solidão de seus condomínios fechados?


As pessoas estão trancadas ou se trancando, ensimesmadas nos seus mundinhos fechados, sem lugar para partilhar uma conversa que dure mais de 10 minutos.

domingo, 18 de janeiro de 2009

FINAL DE TARDE NUM BAR DECADENTE EM FORTALEZA


Impressões ligeiras e fragmentadas sobre o bairro da Jacarecanga, ontem no final da tarde, na padre mororó, após reunião do Crítica Radical.

Fiquei na esquina da Padre Mororó com alguns conhecidos do Crítica Radical numa mesa de bar.Fiquei meio contemplativo, meio blasé, enquanto os outros comentavam coisas do seus cotidianos e sem estarem muito interessados de que eu me inserisse em suas vidas mais íntimas.

Então fiquei bebericando uma brahma- apesar da negação do meu médico - ouvindo o Julio Iglesias que tocava e vendo a decadência dos bares da esquina em questão.

O bairro ja foi bem glamurizado e hoje tem aqueles casarões da década de 30 e 40 todos ou quase todos detonados, alguns viraram mocós de sem-teto, de moradores de rua, de pessoas não muito recomendáveis.

E fiquei ouvindo o Julio Iglesias que tocava e tentando me conectar a alguma temporalidade qualquer...No fluxo da conversa citaram o final da mini-série da Maysa da Globo, porque aludiram e evocaram o nome de uma amiga deles que, segundo eles, quando bêbada tem os mesmos "bonecos" e inconveniências da Maysa...Nesse momento eu voltei para o planeta Terra das pessoas comuns que em vez de ficarem olhando para arquitetura detonada de ruas de bairros que um dia tiveram glamour, resolve conversar sobre coisas cotidianas como brigas de marido e mulher, sobrinho que engravidou fulana, contas de luz, gás e telefone...

...e lá estava eu dando as minhas impressões sobre a música da Maysa que acho muito pra baixo e cafona.E sem ver nem para quê comecei a lembrar do teatro, dos romances e das crônicas de Nelson Rodrigues.Sim! Nelson Rodrigues.Suas mulheres nervosas, seus homens tarados e todo o seu carioquismo tem muito a ver com a década de 60 que pinto na memória que imagino dessa época, sem nunca na verdade ter vivido nela, posto que nasci em 1972 quando a tropicália já dava sinais de morte.

No final da rua tem o cemitério São João Batista onde estão enterrados escritores muito conheciodos da cidade, como o, dizem, racista, Quintino Cunha.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

DE TREM PRA MARACANAÚ


Hoje estava assistindo o Jornal do Meio Dia
e vi uma notícia que o Projovem do Governo Federal
estava precisando de professores para o municípios do Interior.

E aí, como talvez vá ficar desempregado logo logo, lá fui eu numa aventura
por trem até o município da região metropolitana de Maracanaú.

Essa crônica pretende narrar como foi meu percurso dentro do trem sucateado.
Peguei o trem na estação do Couto Fernandes em frente ao Incra em Fortaleza
e na estação ninguém sabia com certeza
onde ficava a sede da prefeitura
ou da secretaria de educação de Maracanaú,
o que revela o quanto o povo está distante dos gestores públicos.

Dentro do trem sucateado, caindo aos pedaços, fedorento
fui ao lado de um senhor queixoso quanto ao Metrofor
e num mecanismo de memória involuntária proustiana
eu fiquei me lembrando de quando ainda no ano de 1986
eu pegava o trem para ir para o quartel da Polícia Militar
onde eu tentava treinar para tornar-me um infanto
desses que ficava o dia todo em pé
sem ganhar um centavo
em lojas olhando os menores que queriam roubar algo.

Cada traseunte exibia o seu semblante de sofrimeto
e salário baixo
As árvores que passavam agitadas
na janela me acenava essa Fortaleza mais selvagem,
mais rural da zona sul e suburbana pros lados da Messejana

uma região verde e que ainda não foi muito surripiada
pela especulação imobiliária

À medida que se aproximava do município de Maracanaú
percebia que a arborização de mata ciliar
ia rareando na janela do trem
anunciando que o município polúido e industrial estava próximo


Uma pichação no trem ao lado exibia a palavra "kaos" em letras róseas
achei estranho e bonito
um kaos roseo.
E sei lá comecei a Pauloleminskalizar a paisagem.

Fiquei lembrando que o primeiro cartaz do Movimento Punk de Fortaleza
eu vi nesse trem para o Maracanaú
na volta do Conjunto Esperança
e do tal quartel da Polícia
em que eu adolescente
aprendia a ser macho e homem de respeito.

Hoje os punnks mais velhos, os que estão vivos e não morreram de droga
ou de morte violenta,
são pais de família poucos escolarizados que escutam discos arrannhados
do Clash, Sex Pistols ou Ramones ou donas de casa ocupadas em ler a Bíblia pra filha que se converteu.

Os mais jovens não querem muito papo comigo
porque me acham muito acadêmico.



Na volta - não consegui o emprego coisa nenhuma
outras memórias vieram involuntariamente, dessa vez
lembrava-me das cenas de trem
do filme em que Leonardo de Caprio
faz Rimbaud e namora com Verlaine.
Os europeus sentem uma presença muito maior do trem
no cotidiano do que nós cearenses.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

FRACASSO


Ouvindo o cd "Cores, Nomes" de Caetano Veloso


Minha escritura do fracasso tem me incomodado
meu pessimismo agônico
não sei se conseguirei emprego
fazer bicos
e os fazendo não sei se terei habilidade para pagar minhas contas
com pouco dinheiro
Fico pensando em Pessoa que só não passou fome
porque sabia inglês e traduiza coisas para escritórios de contabilidade
na pedregosa Lisboa.
Penso em Mallarmé que jamais seria best-seller com sua poeisa hermética
e cifrada
e só não passou fome
porque sabia inglês
e dava aula particulares
para os filhos de comerciantes endinheirados
na enevoada e suja Paris do século XIX

Só me interesso pelo que não de dá dinheiro:
cinema, literatura
Só um fracasso como professor de meninos em situação de risco
Só um tradutor ruim e não juramentado
Sou um fracassado social
e ando pé
porque meu Passecard não terá crédito após a demissão
Sou um futuro desempregado
e olho o céu como tampa
e essa imagem atesta o meu fracasso
e minha falta de critividade
porque já vi em outro fracassado do passado: um Baudelaire.